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É o juízo que formulamos acerca dos factos desagradáveis que os torna intoleráveis.
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A censura é como o vento Norte, que surge no Verão com violentas rajadas, mas desaparece tão subitamente quanto surgiu, no início do Outono, quando as plantas anunciam o seu repouso.
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Se te deixares ultrajar por pequenas injúrias e difamações, perseguir-te-ão até ao momento derradeiro.
Se injuriares e caluniares um rio, deixará este de correr na direcção da foz? Se o fizeres às montanhas, arrostar-se-ão estas pelos vales? E o mar deixará de banhar as esplêndidas praias?
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Esta sociedade está repleta de macacos vestidos de púrpura, a quem denominamos de catedráticos, mas que são verdadeiros asnos. Falam de modo a que a turba não os entendendo, mais os admire e exalte.
É vasto o número de estultos.
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Um par de anos de vigilância constante irá esclarecer-te quanto à natureza humana, que muito pouco se modificou nos 10.000 anos de “civilização”.
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De nada serve presentear alguém com uma esmola, se pelo seu comportamento vicioso não agencia no sentido de afastar a pobreza.
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Prefiro o sorriso ao riso, e cada vez mais, sorrir a fazer rir.
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Acreditar no destino é uma das múltiplas fugas à existência de factos desfavoráveis.
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É pelos nossos defeitos que reconhecemos os dos outros. São as imperfeições que nos assolam, a justificação directa das acusações que forjamos, bastas vezes de modo hediondo, injusto e imoral.
A constatação e imputação de defeitos aos outros reserva motivos ocultos. O homem pretende com tal ofensiva colocar-se na posição defensiva de quem os não detém.
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Precisamos de compreender a insegurança. Não somos apenas nós que estamos sujeitos à visita repentina e não anunciada do Senhor da Morte. Os que amamos podem ser ceifados no próximo instante.
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Somos lógicos, calmos, pacientes, tranquilizadores, no sofrimento alheio. Mas, quando esse sofrimento se abate sobre nós, julgamo-nos os mais infelizes dos infelizes desafortunados.
Deixemos de ser hipócritas.
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Face ao sofrimento, o que importa não é destruir o pensamento, diz Russell, mas sim dar-lhe nova direcção, ou afastá-lo do infortúnio que nos perturba.
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A abertura de espírito impõe que não persistas no erro e na ignorância, quando demonstrares a ti mesmo ou te seja cabalmente demonstrada a incoerência dos teus pensamentos e acções.
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A doutrina tradicional do pecado considerava, que depois de um homem ter cometido um acto qualificado como tal, poderia representar dois estados de espírito: por um lado, o remorso, por outro, um verdadeiro arrependimento, estando o primeiro incapacitado de fazer operar a sua remição, contrariamente ao segundo.
Na maior parte dos homens, o arrependimento surge quando os actos pecaminosos se tornam públicos com a consequente reprovação social que daí advém e perda de reputação o que se consubstancia num falso pesar.
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O ser humano tem uma maior inclinação para o ódio do que para o amor e para a fraternidade, o que se fica a dever à sua insatisfação, fadiga, tédio e inveja.
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O indeciso é como o “burro de Buridano”, que morre de fome face à sua incapacidade de escolha entre dois fardos de feno, equidistantes, um à sua direita e outro à sua esquerda.
É o conflito psicológico que gera a hesitação.
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O dinheiro apenas serve, enquanto me permitir repousar e estar em segurança. Se não tivermos dinheiro para satisfazer as necessidades básicas, seremos infelizes. Mas, infelizes seremos também, se o seu excesso for manifesto e a nossa ambição desmedida.
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Um espírito nobre nunca é cruel e desconhece o ódio. Ódio e crueldade são artefactos de espíritos fracos ou doentios.
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Orgulho e vaidade não são incompatíveis. Extinta a segunda, mantém-se o primeiro. Se tal não ocorresse, como poderíamos suportar as nossas imperfeições, os nossos defeitos? Pelo orgulho recalcamos os sentimentos de culpa e assim, adiamos o aparecimento de inevitável patologia depressiva.
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Tens de escolher entre o ouro e o espírito. Se as tuas acções tiverem como único objectivo a obtenção de bens materiais, não serás muito mais do que animal confinado em estreita cerca, com ração de engorda em abundância.
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O homem que se mortifica na mira do bem supremo, nunca saberá o que é a inocência. As suas feridas apenas estarão aparentemente cicatrizadas. Qualquer movimento brusco do pensamento abrirá os portais do recalcamento, deixando emergir com redobrado vigor, o material inconsciente.
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As promessas religiosas são realizadas quando finda a esperança e o medo é dominante, quase absoluto. Se o medo finda, esquecem-se aquelas, a menos que o esquecimento, por remorso, desenvolva um novo tipo de receio.
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A vulgaridade desconhece a verdade. O homem comum exalta a riqueza e o poder nas suas múltiplas vertentes. Apenas consegue ver sem discernir, o que ardentemente deseja. A sua flâmula é a do erro.
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A maior parte dos homens se não são elogiados pelos seus pares não deixam os créditos por mãos alheias. Elogiam-se a si mesmos.
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O nosso conhecimento directo incide sobre os dados dos sentidos – originados pela observação dos objectos e seres – e sobre o conteúdo da nossa consciência. Assim o autoconhecimento é um conhecimento directo, e não por referência.
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Sentimento de culpa e complexo de inferioridade são emoções que normalmente caminham juntas, transformando a vida do homem num profundo poço de infelicidade.
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Incumbe-nos não perder tempo com futilidades por duas ordens de razões: em primeiro lugar, podemos sucumbir à morte em qualquer momento, em segundo, porque quanto mais nos aproximamos desse momento, no inevitável processo de envelhecimento, mais as nossas capacidades denotam enfraquecimento.
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Devemos evitar “vender-nos” às paixões.
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A obscuridade é sempre preferível à fama. A fama transforma-se de estado desejável num odioso, quando afecta a tranquilidade do seu depositário.
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Mais acções que palavras, mais humildade que acções.
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A coragem pode consistir num acto de consequências letais, consequência de um mal maior do que a própria morte. Aí, transforma-se em covardia. E, onde há medo e covardia nunca poderá existir coragem.
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A opinião dos homens vulgares em nada afecta a nossa reputação.
A indiferença que manifestamos no que respeita à nossa reputação é um passo dado no tortuoso “caminho” da felicidade.
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A virtude não implica o desprezo pelo prazer, o desejo crónico de aniquilação dos desejos, do medo e do “pecado”. Virtuoso é o que com constância se observa a si mesmo, e que tem consciência imparcial da sua verdadeira realidade.
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O homem vulgar coloca todas as suas preocupações nos prazeres do corpo, nos seus ornamentos e aparência. Quando deixa de se comprazer ou de poder usufruir das coisas da carne julga ter esgotado o sentido da vida.
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Para quem “conhece” a morte não há qualquer vantagem em morrer daqui por longos anos em vez de ser hoje ou amanhã.
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Prefiro a pobreza a envergonhar-me do que digo ou faço.
Prefiro uma pobreza serena à riqueza na tribulação.
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Aproxima-se da perfeição moral aquele que nos actos do quotidiano age como se fosse a última vez.
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Há algumas gerações atrás, às mulheres, no plano sexual, era ensinado que se haviam de comportar em conformidade com o conceito então vigente de pureza. Este comportamento, levava-as nalguns casos ao recalcamento voluntário do prazer e noutros ao seu afastamento involuntário, ou se se quiser, inconsciente. Hoje, o panorama modificou-se substancialmente. Com isto não queremos dizer, que a época seja de destruição do sentido moral, mas antes da aniquilação de uma moral tendencialmente supersticiosa e danosa que nos foi inculcada na infância e agora substituída por imperativos pessoais anárquicos.
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O sage só se basta a si mesmo se a solidão não tiver como consequência a perda da paz.
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Em bom rigor, a sabedoria entendida como conhecimento, tem muito pouco valor. Apenas quando reconhecemos a nossa ignorância, como o fez Sócrates, terá alguma valia.
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Os que pela paciência trilham lentamente um caminho sinuoso, avançam mais, do que aqueles que movidos por impetuosa impaciência se aventuram em sucessivos atalhos.
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A maior parte das coisas que nos inquietam são ilusórias, produto das nossas fantasias.
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Aquele que é, percebe-se como tal. Isso é existência pura.
O “ser” e o “não ser” – o nada –, aproximam-se. Quando o pensamento silencia, os extremos tocam-se.
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A Verdade é inexprimível. Quem a encontra não a consegue descrever.
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Deus é o desconhecido e o incognoscível.
Tudo o que se diga para além disto, não passará de fantasia, de distorção da realidade.
No entanto, continuamos sempre a falar dele porque é inevitável que o façamos.
E se o identificamos em todas as coisas que estão nele, mesmo assim não o revelamos, mas as coisas para além das quais se encontra.
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O animal é agressivo quando procura ocupar o espaço possível circundante. O homem agride porque sofre, pretendendo destruir essa dor pelo furor que alija no meio envolvente. Mas com tal atitude apenas gera mais dor.
O tormento que infligimos aos outros retorna como o eco da voz lançada contra uma parede rochosa no vale, e o que deixamos germinar e crescer em nós mesmos multiplica-se em crescendo geométrico.
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Há um momento da nossa existência que nos é particularmente grato: aquele em que passamos a desvendar minuto a minuto e em profundidade, o mais íntimo do nosso ser. Provavelmente, a existência humana não tem outro objectivo que a justifique.
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Os homens viajam para se divertir; buscam o auto-esquecimento no entretenimento.
Eu viajo para estar comigo, comigo mesmo.
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Não consigo agradar a todos. Não quero agradar ao mundo, pois isso seria enganar toda a gente.
Nem Deus que é Deus, consegue agradar a tudo e todos.
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Resiste mais à intempérie do quotidiano quem teve de ultrapassar obstáculos na vida, construindo-a no seio de dificuldades.
O facilitismo no consumismo, torna os homens birrentos tais crianças mimadas e as crianças e adolescentes transformar-se-ão em adultos ineptos.
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Hoje sinto uma alegria imensa no nada, e assim tenho tudo, nem o nada me falta.
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A imitação, mesmo a das grandes almas, é uma aberração.
Sê quem és.
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Não busques no mundo o que dentro de ti está. Evita esforços completamente inúteis.
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Vejo muita gente que julga valer as suas posses, o que veste e ostenta. A maior parte nem isso vale.
Nada possuir, nem mesmo uma ideia, é fonte inesgotável de alegria.
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