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Se a nossa energia estiver debilitada e o espírito conturbado por hesitações, débeis serão os nossos empreendimentos.
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Um dos Mandamentos do Amor:
Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Muito mal amamos o próximo, por muito mal nos amarmos.
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Há idosos que se arrastam na vida, alardeando os muitos anos passados.
Pena é, que não tenham vivido por inteiro um único dia.
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Coerência e constância não devem ser confundidas com intolerância.
Ser-se íntegro não obriga à estabilidade de opiniões. A mudança livre, desinteressada e consciente é o alicerce da integridade.
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Há homens que perderam todos os seus bens materiais ou que se viram desprovidos das suas riquezas, homens que perderam os seres que amavam, e há ainda os que nada perderam por nada terem. A única coisa que não devemos perder é a capacidade de aceitar a vida tal qual ela é; o “sim” inequívoco seja à felicidade seja à adversidade.
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Não me vingo seja de quem for.
Basta esquecer-me das ofensas ou lembrar-me perfeitamente de as ter esquecido.
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A sublimação, recalcamento ou compensação do instinto sexual, podem também ser consideradas perversões sexuais.
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A razão impede-nos de olhar para além das estrelas.
Experimenta o silêncio.
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Em regra, quando jovem, confiava em tudo ou quase tudo.
Agora, nos portais do envelhecimento, desconfio de tudo, em especial de mim mesmo.
Não existe nada neste mundo que não mereça e não deva ser questionado.
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Se a tua vida se reduzir ao teu estômago e aos órgãos genitais, morrerás como uma vaca leiteira: carne velha e nenhum leite.
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Amor e fantasmas ou espíritos do outro mundo são duas realidades idênticas.
Muito especulamos acerca deles, mas só alguns alienados os viram.
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Conhecer os outros é sabedoria.
Procurares o conhecimento de ti, com constância, é o princípio da iluminação.
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Quando buscamos algo, nada mais encontramos. A insistência obsessiva na perseguição de um objecto ou na prossecução de um objectivo, impede-nos de encontrar seja o que for.
Só conseguiremos encontrar seja o que for, na vigilância passiva, na ausência de esforço, na plena liberdade da mente, o que não se compadece com metas ou finalidades.
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O amor surge como a brisa matinal que não é invocada, quando os estados ou sentimentos negativos são expurgados. Onde há inveja, ciúme, ambição, e apego, não pode haver amor.
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É preferível desconhecer algo, do que ser ignorante a seu respeito, ostentando conhecimento.
O que não sabe e não age, nenhum mal causará.
O que não sabe e age é tão prejudicial quanto um exército recrutado num hospício.
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Tudo o que vemos para além da natureza no seu estado puro foi gerado pelo pensamento. O homem construiu cidades, desviou leitos de rios, edificou pontes, plantou e devastou florestas, fez recuar os mares, teorizou sistemas filosóficos, inventou religiões, dogmas, superstições, escreveu livros tendo chamado a alguns sagrados, protegeu-se com deuses, ídolos e amuletos.
Deus, a alma, livros divinos e de revelação resultam do pensamento que é limitado, o grande responsável pelo padecimento e pelo tempo. Limitado por no seu âmbito só caber o que foi experimentado, não podendo atingir o desconhecido.
O Absoluto não pode habitar a área do pensamento.
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A vivência das inúmeras situações que se nos deparam na vida leva ao conhecimento que é armazenado em memória. Deste nasce o pensamento que conduz à acção – negativa ou positiva –, que se constitui como uma nova vivência ou experiência e assim sucessivamente, sempre com utilização de palavras e imagens.
Precisamos compreender a sucessão de pensamentos, levar esse entendimento até às origens do seu movimento.
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Acusam-me de ser indiferente ao mundo, de não lutar pela sua transformação.
No entanto, a minha influência restringe-se àquilo que sou e não ao que finjo ou quero ser.
A luz da polar é débil, mas indica o Norte sem saber que o indica. Uma pequena quantidade de água pode ser derramada ou salvar a vida dum náufrago. Uma candeia não pode iluminar uma floresta, mas pode incendiá-la.
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A vida futura é um facto incerto. Para viver temos de admitir a insegurança. Temos de a sentir profundamente no nosso coração. Só esse sentimento permite o gozo pleno, intenso e apaixonado do momento presente, único que possui existência real e que é em regra aniquilado pela mente.
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Perceber um problema é vê-lo em toda a sua extensão sem que o pensamento interfira. Resolvê-lo é dar-lhe atenção imediata.
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Os problemas têm de ser resolvidos instantaneamente. A indecisão é um conflito entre o quero e o não quero, vou e não vou, que absorve a actividade do cérebro e o inviabiliza de observar.
Se fugimos do problema, ficamos com ele e com o novo, que cuidávamos adequado para a sua substituição.
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A nossa vida é um amontoado de problemas do princípio ao fim. Problemas de relação – familiares, laborais, amorosos, nos conhecimentos e amizades –, sexuais – com inúmeros mitos e barreiras –, morais, religiosos, estéticos, psicológicos.
No conflito há um encontro de forças contraditórias, em que cada uma pretende dominar a outra. Do confronto resulta inexoravelmente desgaste.
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Libertos dos condicionamentos e das impressões residuais, com a inocência da criança de tenra idade, tudo nos espantará. Teremos uma mente livre que não dana seja quem for e não pode ser magoada.
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Quando vivemos segundo os nossos próprios parâmetros, isso não é egoísmo, é uma liberdade cujo conteúdo essencial não é afrontado. O egoísmo nasce quando alguém quer impor a outrem as suas regras, determinações e expectativas.
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Se nos libertarmos do pensamento, libertamo-nos de tudo o que nos relativiza, que nos condiciona. E a libertação do pensamento passa pela sua vigilância, momento a momento.
Aí, quando pesquisamos algo, comportamo-nos como quem nada sabe. A pesquisa pressupõe liberdade de respostas pré-programadas pelas nossas motivações e condicionamentos. Seremos crianças inocentes, pobres em espírito, nas quais as impressões residuais e pulsões se apresentam de forma virtual.
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A fantasia e a imaginação deturpam e inviabilizam a percepção límpida das coisas, que só é possível com a quietude do cérebro.
Na ficção há uma representação mental divorciada da realidade.
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O saber é sempre relativo à situação espácio-temporal do homem. A nossa mente adquire conhecimentos, soma-os recorrendo à memória, à aprendizagem prévia, relaciona-os, reflecte sobre eles.
E quanto mais repetimos, mais citamos, mais inteligência parecemos ter aos olhos do mundo, confundindo-a com a memória que é perniciosa ao perscrutar da vida e ao definitivo estabelecimento da harmonia. Mas há o conhecimento que não é fruto do pensamento e dos seus múltiplos mecanismos, que é fruto da pura observação e do deslumbre por esta gerado.
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Sem alento e energia não superamos os obstáculos, não atravessamos o rio de águas caudalosas ou a montanha íngreme. Mas, o empenho para se ser algo mais do que aquilo que se é, transforma-se no maior dos desperdícios. Basta-nos “ser”.
A mudança que se pretende pressupõe esforço. O esforço é contenda e a contenda é padecimento.
O trabalho e o acumular de conhecimentos geram conflitos quando os erigimos em fonte de transformação, de prestígio.
Ser-se o que se é, não querer ser, é a base da mudança que surge espontaneamente.
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O trabalho e a riqueza são invenções do estúpido progresso.
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A sociedade transformar-se-á no que é essencial quando cada um de nós se transformar.
É um erro pensar que o legislador, o político, o religioso, têm capacidade para melhorar a consciência dos seres humanos, fazendo cessar a dor psicológica. Caminhamos na direcção do horizonte. A cada aproximação, nova distância. Só existe a vereda sinuosa, nunca a consumação da chegada.
Cada um tem o seu próprio caminho sem mapa, um trilho desconhecido cujos rastos desaparecem imediatamente.
Estamos sós nessa caminhada para algures ou lado nenhum.
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O Estado, os poderosos, os políticos, os dirigentes, procuram sempre justificar-se. Justificam-se aos outros e a si próprios. Com a tradição, o direito natural, a divina providência, a vontade popular. Justificam, legitimam e validam a ilicitude e imoralidade dos seus actos.
A autoridade nunca é inocente.
Não é só o Estado que é um “monstro frio”. A sociedade humana também o é, destruindo-se a si mesma e à natureza que diz preservar.
As florestas precedem os homens, os desertos seguem-se-lhe.
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Nesta sociedade estupidificada, muitas vezes não são os meios a justificar os fins, mas os meios a justificarem-se a si mesmos.
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Quando estamos doentes apercebemo-nos de que parte das nossas vidas foi gasta em futilidades. Pena é que o retorno da saúde traga consigo uma espécie particular de amnésia perniciosa.
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Os empresários industriosos são mais pobres que a maior parte dos sem-abrigo, porquanto só conhecem um princípio, uma ética, uma realidade: a do lucro. Os ricos que ambicionam mais riqueza são mais do que pobres, são miseráveis por excelência.
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Há cobardes que só o não são em aparência, já que aparentando tê-la, não têm réstia de coragem.
Há heróis, porque por medo e cobardia não fugiram.
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Julgas-te deus. Ciência e progresso iludem-te.
Nada sabes de ti, muito menos do Universo, quanto mais acerca da alma e do Absoluto.
A ignorância é o teu atributo, e nada fazes para a superar, alimentando-te de futilidades e esperanças vãs.
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De nada servem as palavras, por mais belas e inspiradas que pareçam, se não tiverem correspondência na acção de quem as profere.
Vale mais uma acção correcta, um exemplo gratificante, do que mil prédicas.
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As obras que realizamos são perecíveis.
Umas vezes perecemos antes delas, outras com elas, e outras depois delas.
Mas, ambos estamos sujeitos à corruptibilidade.
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Tenho quase a certeza de que inexistem certezas. Assim, até o facto de inexistirem certezas é uma incerteza.
A fé nasceu para validar certezas incertas.
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A maior punição para as más acções, comummente denominadas “pecado”, não é o Inferno, mas uma das suas sinonímias: o sentimento de culpa.
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Sempre me acautelei dos que me lisonjeiam. A sua língua é na maior parte das vezes, viperina.
Prefiro um inimigo sábio, a mil asnos por amigos.
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A consciência psicológica é a totalidade dos estados mentais percebidos pelo sujeito como referidos a si próprio.
O ser humano é idêntico. Ele é o prazer e a dor, ansiedade e tranquilidade, amor e ódio, alegria e tristeza, medo e destemor, segurança e insegurança, traumas e sentimentos de culpa, a herança cultural, os valores éticos e estéticos, e acima de tudo, padecimento psicológico.
Temos estratificada na nossa consciência a história psicológica da humanidade. Há uma estrutura básica da nossa mente que é o resultado das experiências imemoriais da raça e seus antecessores na longa cadeia da evolução da vida. Podem chamar-lhe o que quiserem, inconsciente profundo, colectivo. Este material comum, provavelmente comum a toda a humanidade, explica a existência de mitos de estrutura análoga em povos e civilizações que não tiveram qualquer contacto. Para além deste, a consciência não tem conteúdo próprio; no entanto, nunca está vazia, está repleta de coisas que lhe são exteriores quando a quietação psicológica é algo de fundamental.
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O homem não existe para trabalhar e enriquecer. Nasceu para recolher os frutos da terra, amar intensamente, realizar a beleza, e contemplar em paz o meio envolvente.
No entanto, é um operário incansável. Fabrica ininterruptamente objectos, e está constantemente a fabricar-se a si próprio.
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A sociedade actual estrutura-se no prazer, na ambição, na inveja. Buscamos o prazer com o acumular de bens materiais, com a repetição de experiências agradáveis, com o poder.
Aspirar à repetição de vivências aprazíveis e voluptuosas é fazer germinar o sofrimento psicológico.
Exigimos constantemente novas experiências, novos prazeres ou a repetição dos passados. Estamos insatisfeitos com a vida que levamos e queremos sempre melhorá-la qualitativa e quantitativamente, ao que alimentamos e desenvolvemos um grande número de anseios. E nessa procura desenfreada de gozo, nesse estar no futuro com expectativas de melhoria, passamos ao seu lado.
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Não é a riqueza que deve ser condenada, mas a opulência, a ganância e a avareza. Não é o poder que destrói, mas os seus abusos, tais como o proveito próprio, a corrupção e o compadrio.
É tão reprovável a atitude do que se vende por dinheiro, como do que se vende por prestígio, amizade, amor ou até por compaixão.
Não são os bens materiais ou as riquezas que cerceiam o nosso crescimento, mas o “ego”.
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As oferendas são na sua maioria realizadas para compensar algo que é profícuo e agradável ao doador. Uma dádiva é similar ao isco com que o pescador pretende ludibriar o peixe.
Não damos ponto sem nó. As nossas ofertas só muito extraordinariamente são espontâneas, indiferentes ou desinteressadas. Dá-se para colher, no imediato ou num porvir hipotético, mas previsível. Pagam-se favores, benefícios ilícitos e gentilezas. Percebem-se donativos de corruptela e mimos ilegítimos. Engrandecem e cevam os políticos e poderosos, tais suínos em período de invernada, enquanto os desventurados, lerdos, famintos e ignorantes, os vão untando e nutrindo, porque é de muito mais valia o salteador que reparte uma ínfima quota do seu quinhão, do que aquele, que nada partilha, como se uma mão conspurcada fique lavada pela partição do furto socialmente consentido.
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Quando me sento nas fragas da montanha, entendo sem pensar, que a Natureza é paciência.
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