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Se eu tiver algum mérito, que o tenha. Se for ou não reconhecido, que o seja ou não é-me indiferente.
Poder-me-ão interessar tais futilidades?
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Guy McPherson afirmou com algum humor, que o nascimento é uma doença sexualmente transmissível que se revelou fatal.
Considera ter falhado na tarefa de encorajar o Homo sapiens a parar de se reproduzir – diz que a população da Terra quase duplicou desde a sua chegada a Tucson no ano de 1989.
O excesso de população viabilizou a previsível Extinção Abrupta da Humanidade.
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Não te preocupes com quem pode matar o corpo. Ninguém poderá matar a tua alma.
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Elizabeth Boleman-Herring disse que quando os comediantes riem, dizem que estão a “matar”, mas quando a sala de espetáculos fica silenciosa dizem que estão a “morrer”. Face à emergência de uma Sexta Extinção no planeta e consequente fim da humanidade, estamos todos a morrer, mesmo quando estamos a matar.
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Convivência e familiaridade excessiva de homens de fraco carácter com homens nobres fazem com que aqueles adquiram as manhas e defeitos destes, ao invés das muitas virtudes que apresentam.
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Será que existe uma culpa objectiva, ou apenas poderemos razoavelmente falar na culpa subjectiva?
Se assim é, qual a medida da sua reparação?
O grau de arrependimento?
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A amizade é uma espécie de ave terrestre inábil para voar.
Só o Amor resplandece na liberdade dos céus.
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A maior de todas as dores é a existência com a sua angústia, dúvidas, efemeridade morte anunciada.
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Estes mesquinhos e hediondos ambiciosos não têm nem terão cura. Deixai que me corrija: irão encontrá-la no féretro, mas mesmo assim, apenas depois de ter sido engolido pela terra fúnebre.
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Como são doces as palavras do adulador. Como se tornam cada vez mais doces, enquanto não consegue atingir os seus objectivos. Logo que os atinja ou caso não o consiga, as suas palavras transformam-se no mais horrendo fel.
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A essência do cobarde é o medo. Medo de tudo e medo do próprio medo. Na guerra, os cobardes deixam-se abater com medo de se defenderem da agressão letal a que estão sujeitos.
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Se te apressares na busca da perfeição, a cada momento, mais longe te encontrarás do fim ilusório do caminho e mais tempo despenderás. Em vez de adiantado, encontrar-te-ás atrasado.
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O Rio Grande da Iluminação não tem margens e o caudal da Verdade é sempre o mesmo em movimento perpétuo.
Se a mente estiver vazia, haverá harmonia não só no nosso interior, como com o que nos é exterior.
O vazio admite qualquer melodia.
O vazio da mente é o espaço do próprio Cosmos.
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Tanto asno a viver na morte, trilhando a vereda do sono. Para viver bastar-lhes-ia estar atentos e observar a vida na sua magnificente diversidade.
Quem vive atento, constantemente atento, vive efectivamente, e não será sepultado em vida.
Os mestres dilapidam a percepção límpida das coisas.
Eu sou o meu Mestre. Não sei bem se o sou ou quando o sou, mas sei que não tenho outro.
Porquê evitar viver onde os outros vivem, e fazer o que fazem? Basta-me ser o que sou.
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O homem é ao mesmo tempo sociável e associal (Kant). Se por um lado, tem tendência para viver em comunidade, por outro, os seus interesses, em regra, conflituam com esta e são motivo de desavenças constantes.
Os rodados seguem o carro quando este se movimenta. E, quanto mais rápido se move, mais depressa o seguem. Assim, os nossos condicionamentos nos perseguem.
As serras, montanhas, vales, rios, regatos, florestas, são fontes de uma subtil luminosidade, que tanto brilha de dia quanto de noite, e é acessível aos que não tiverem o seu olhar contaminado pelas maleitas do condicionamento e da ambição.
Não quero ser o vaso de argila onde os “doutos” despejam os seus ensinamentos.
No progresso já não dominam duas faces. Apenas uma: a miséria moral dos poderosos e a material dos desvalidos.
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Os homens de negócios não têm amigos, à excepção do deus do lucro.
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Das coisas do mundo, as que mais me aborrecem são as conversas e acções fúteis, o exagerado simbolismo dos poetas, a estéril ficção dos escritores e a comida requintada.
Outras, evidentemente, não me aborrecem, indignam-me.
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A inveja não é mais forte do que o ódio. Muitas vezes, o ódio é fruto da inveja e podendo esta ser dissipada pela vigilância passiva exercida pelo cérebro, verificamos que o ódio subsiste.
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Um discurso político bem organizado, ornado de frases belas e tocantes, mais não é do que um predador de tocaia.
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Os que acreditam ser possível mudar o mundo pela força das armas, são verdadeiros asnos. Pelas armas apenas geramos uma destruição parcial, sem que a essência do mundo seja alterada. Não é o mundo que muda, mas cada homem em si, e consequentemente, por força desta mudança ocorre aquela.
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Foi feito um estudo num país desenvolvido, onde se determinou que nove pais em cada dez, que maltratam os filhos, foram eles próprios vítimas de maus tratos. Isto é vingança, inconsciente ou não, é pura vingança. Não teorizemos, porque o facto é o de que o homem é vingativo e violento.
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Se por imitação de certos modelos que julgamos ideais, queremos ser o que não somos, transformamo-nos não nos modelos idealizados, mas em artistas de circo, aparentados aos palhaços.
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No silêncio há uma grandeza ímpar. Para além dele, estão a frouxidão, a fraqueza, a autocompaixão, a miséria espiritual.
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Não devemos exagerar nos conselhos que por amizade ou compaixão aos outros damos. Necessitamos sempre de entender, quais os limites impostos ao aconselhamento impostos pelo próprio aconselhado.
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A sabedoria que vence o mal não é colectiva, é meramente individual. O colectivo é a imagem reflectida, ainda que distorcida do próprio mal. E, contentemo-nos com a certeza – se certezas existem – de que a parte modifica o todo.
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A graça do estereotipado é a sua desgraça social.
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Quando jovem, tenho consciência de que falava muito e de modo convincente – um dom que não cultivei, mas que possuía, ao que se diz... –, mas pouco fazia.
Hoje, aborrece-me falar, e há quem diga que algo faço. Pelo menos, não desbarato palavras, o que já é muito fazer.
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A arte defende-nos, “exorciza-nos do mal”, como diz Nietzsche. Mas só a obra que não tem princípio nem fim pode manifestar esse poder.
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Um homem de bem não se atém a opiniões preconcebidas, e age em conformidade com a sua consciência, manifestando imparcialidade em todos os seus actos. O homem comum age em conformidade com os seus próprios interesses e sempre na mira do aproveitamento pessoal.
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O criminoso foi bastas vezes uma vítima da delinquência, na infância e na adolescência.
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Há um momento em que necessitamos de abandonar os estudos exaustivos dos doutos decrépitos para “lermos” o “Nosso Próprio Livro” e o “Livro da Vida”, “obras” absolutamente indissociáveis.
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Um filósofo competente é o que aspira ao conhecimento, duvida do seu próprio saber, tem espírito lógico e um pensamento lúcido. Pena é que na maior parte dos casos, mais não seja do que um profissional da razão, competente, tal almocreve pobre que falece abraçado às suas bestas de carga.
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As verdades reveladas na teologia têm de estar forçosamente muito para além do entendimento, sendo nalguns casos perfeitamente absurdas, para que os doutos lhes dêem assentimento.
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É apenas a realidade percebida no estado de vigília, que é real ou, também o é a percepcionada no estado de sonho? Ambas!
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Os poderosos não têm amigos. Apenas víboras aduladoras. E assim, bem estão uns para os outros.
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Neste mundo bélico, constatamos desde o nascimento daquilo que apelidamos civilização, mais guerras do que anos, e uma imensidão de crimes horrendos. Que Deus odioso nos terá criado e enviado para tal mundo, perguntam os filósofos pessimistas com alguma razão.
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É com sandices e baboseiras que comovemos essa horrenda alimária que é o povo.
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O louco nunca peca. A sua natureza desconhece a vergonha, a ambição, a inveja, o ciúme, o amor e o medo.
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Aproxima-se o Inverno. Tempo de recolhimento e paz.
Quase todos se queixam dele e são muito poucos os que o sabem usufruir.
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Não valorizes apenas o que te é dito em função de quem o diz, mas valoriza o que ouves sem olhar a quem o diz. Não te limites a ouvir, mas penetra na alma do orador, sem que te deixes inebriar por belas palavras e por inconsequente, mas melodioso discurso.
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Ninguém é mestre de um qualquer mester antes de ter sido discípulo.
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Não é pela fuga aos relacionamentos que o homem se torna melhor. Mas, se alguém seja pai, seja filho, amante, amigo ou conhecido se constituir num obstáculo ao teu desenvolvimento espiritual, só tens um remédio para tal doença: a indiferença.
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A injustiça tem na maior parte das vezes a sua causa na omissão dos que em autoria moral ou mera cumplicidade permitem a sua prática.
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O arrependimento é uma censura pessoal, como consequência da prática de um acto, que segundo a nossa consciência ou os imperativos sociais vigentes em determinado tempo e lugar, por nós assimilados, não deveríamos ter praticado ou que deveríamos praticar, e de forma negligente ou dolosa omitimos.
É tão importante o arrependimento quanto a capacidade de nos perdoarmos a nós mesmos.
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A melhor das vidas é a que está envolta em simplicidade e modéstia, mas sem subserviência.
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