O PENSADOR

O PENSADOR
RODIN

quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

PICASSO E A ARTE

 

Para Picasso a arte não é a verdade. A arte é uma mentira que nos faz compreender a verdade e o artista tem de saber a forma como convencer os outros da verdade das suas mentiras.


Picasso era um artista no sentido amplo da palavra. Dá razão a Thoreau quando afirma que a mais alta condição da arte é não ser arte nenhuma.


Com doze anos conseguia desenhar como Rafael, mas segundo ele, precisou de uma vida inteira para aprender a pintar como uma criança.

Van Gogh era um pintor cuja arte nascia do sonho. Primeiro sonhava o quadro para depois pintar o sonho.

 

Talvez a arte não seja mais do que um sonho.


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BUDISMO ZEN – ENSINAMENTOS ZEN – XINXIN MING

 

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O Zen tem as suas origens nos ensinamentos de Buda – Gautama Siddharta – que terá nascido no ano de 556 a.C. e falecido em 486.

O Budismo é mais uma filosofia do que religião.

Não admite a existência de uma alma imortal como no Cristianismo e a existência de um Deus omnipotente.

O Budismo ensina que é possível ao homem a libertação do carma e com esta, a libertação do ciclo interminável de renascimentos o que não se trata de um dogma que obste à prática do Zen por quem nele se não reveja.


Existem dois veículos:

O Grande Veículo – “Maiana” – e o Pequeno Veículo – “Hinaiama”.

O Ch´an – chinês – e o Zen – japonês – integram o Grande Veículo. Atente-se que Zen é o nome que o Budismo adoptou no Japão quando para aí foi levado no século XII.

O budismo chinês desenvolveu-se na dinastia T´ang, entre o século VII e X d.C., depois de um monge indiano de nome Bodhidharma, falecido no ano de 534, aí ter chegado. Bodhidharma é considerado o primeiro Patriarca chinês. Hui-K´o foi o segundo e Seng-T´san, falecido em 606, o terceiro – é a ele que se atribui o poema editado infra.

A partir do momento em que foi designado o sexto patriarca começaram a surgir inúmeras divergências na doutrina Zen, com métodos contraditórios, e ensinamentos divergentes na sua essência, nomeadamente os que conduziam os monges pelo caminho da iluminação progressiva ou súbita.

O pai do Zen no Japão foi Yosai falecido no ano de 1215. 


O Zen não é uma religião nem propriamente uma filosofia. É uma mundividência alheia ao pensamento dualista ocidental, um “caminho” de libertação, se é que a este se pode aceder por um qualquer trajecto, uma apreensão da realidade tal qual ela é, no seu momento de eternidade: o agora. Efectivamente, o Zen ensina-nos a usufruir do momento presente e de que existe uma realidade subjacente à unidade.

Tenha-se em consideração que os orientais tendem a encarar a intuição, a meditação e a experiência mística como modos válidos de aquisição do conhecimento. Não dependem, como nós ocidentais, do raciocínio e da investigação crítica.


O “Xinxin Ming” é o nome chinês de um poema conhecido como o mais antigo texto Zen, provavelmente escrito pelo Terceiro Patriarca Seng-T´san no século VI. Talvez o mais importante ensinamento escrito de todo o Budismo Zen.

Existem múltiplas traduções e traduções de traduções, seja do texto em chinês seja em japonês, com títulos diferentes, bem como dúvidas quanto ao autor e data do poema.

Na nossa tradução do francês escolhemos como título a “Fé na Mente Verdadeira”. Esta é perfeita e não tem que ser aperfeiçoada, cabendo a cada um de nós obter a libertação do poder latente dessa mesma Mente, que se encontra oculto.


O “Xinxin Ming” baseia-se tal como o Vedanta no ensinamento da não-dualidade e podemos considerá-lo a “alma” do Zen, que nos propõe o “satori”, a iluminação; iluminação que não é considerada o seu fim derradeiro, mas antes o princípio de uma nova vida.


“Para alcançar a iluminação Zen não é necessário abandonar a vida familiar, o emprego, tornar-se vegetariano, praticar o ascetismo, fugir para um lugar tranquilo e depois entrar numa gruta fantasmagórica do Zen morto para entreter imaginações subjectivas” – Mestre Dahui.


Podemos ilustrar o Zen com uma história que se diz ter acontecido no Pico do Abutre: 

Conta-se que Buda terá um dia mostrado aos seus discípulos uma flor extremamente bela, pedindo-lhes que dissessem algo a seu respeito.

Depois de a observarem em silêncio durante alguns minutos, um dissertou longamente sobre a sua beleza, comparando-a à Criação, outro compôs um poema e o terceiro uma parábola, cada um mais preocupado em agradar pela eloquência do que propriamente pela satisfação contemplativa.

Mahakashyap olhou-a, sorriu e não disse nada.

Ananda, primo e discípulo de Buda,  que era quem tomava notas das palavras do Iluminado, intuiu que Mahakashyap teria entendido o gesto do Mestre e questionou-o quanto ao seu significado.

Ele limitou-se a mostrar-lhe uma flor e nada disse, e Ananda entendeu.


Sem que tenhamos uma interpretação da história, conseguimos reter que a iluminação não depende de qualquer texto dito sagrado nem poderá nunca ser expressa por palavras. 

O conhecimento Zen foi muitas vezes transmitido por intermédio das suas histórias. Aprender o Zen pela prática do Zen, reflectida nas histórias de Mestres, nas vivências reais dos seus praticantes é sabedoria, contrária à estéril erudição.


Nas palavras de Ch´ing-yuan:

“Antes de ter estudado o Zen durante trinta anos, via as montanhas como montanhas, e as águas como as águas. Quando cheguei a um conhecimento mais íntimo, alcancei o ponto em que vi que as montanhas não são montanhas, e as águas não são águas. Mas agora que alcancei a sua essência real, estou tranquilo. Porque é justo que eu veja as montanhas como montanhas, mais uma vez as águas como águas.”


Lien Tzu, foi discípulo do Mestre Lao Chang, relatando sucintamente a sua aprendizagem:

“Depois de o ter servido pelo espaço de três anos, a minha mente não se atrevia a reflectir sobre o certo e o errado, os meus lábios não se atreviam a falar de lucros e de perdas. Então, pela primeira vez, o meu Mestre concedeu-me um olhar – e isso foi tudo.

Ao fim de cinco anos houvera uma mudança; a minha mente reflectia sobre o certo e o errado, e os meus lábios falavam de lucros e perdas. Então pela primeira vez, afrouxou a severidade do seu semblante e sorriu.

Ao fim de sete anos, houve outra mudança. Deixei que a minha mente pensasse o que lhe aprouvesse, e ela deixou de se preocupar com o certo e o errado. Deixei que os meus lábios pronunciassem o que lhes apetecesse, mas eles deixaram de falar em lucros e perdas. Então, finalmente, o meu Mestre conduziu-me a um lugar sobre a esteira, a seu lado.

Ao fim de nove anos, a minha mente soltou as rédeas às suas reflexões, a minha boca deu livre passagem ao seu discurso. De certo e errado, de lucros e perdas, não tinha eu conhecimento, tanto no que a mim se referia como no que dizia respeito aos outros. O interno e o externo tinham-se fundido na unidade. Daí em diante, não havia já distinção entre olho e ouvido, ouvido e nariz, nariz e boca: todos eram o mesmo. A minha mente estava gelada, o meu corpo dissolvido, carne e ossos fundidos numa só substância. Não tinha a menor consciência daquilo sobre que o meu corpo repousava, ou do que havia sobre os meus pés. Era transportado para um lado e outro, na asa do vento, como palha seca ou folhas caindo de uma árvore. Em verdade, não sabia se o vento me cavalgava ou se era eu que cavalgava o vento.”


Alguns Mestres encararam o Zen de uma forma aparentemente simples.

Lin-Chi disse:

“Quando chegar a altura de te vestires, veste-te. Quando tiveres de andar, anda. Não tenhas a preocupação de te tornar num Buda: sê apenas tu mesmo.”

Também Kokusen se referia ao Zen “como o acto de empilhar pedras e recolher lixo.”

Mestre Yuansou disse: “No Budismo não existe nada que exiga esforço. Tudo nele é normal. Vesti-vos para vos proteger do frio e comei para não ter fome. E é tudo.”


Um discípulo perguntou a um Mestre Zen:

- Qual foi o teu caminho para a Verdade, para o Absoluto?

- Quando como, como; quando repouso, repouso - respondeu o Mestre.

- Mas, Mestre, isso todos nós fazemos, mesmo os que na vida não têm aspirações para além das que os bens materiais alimentam.

- Não, não é como dizes. Essa gente de que falas, quando come tem o seu espírito absorvido por múltiplas questões, por futilidades, e quando dorme, vagueiam no seu cérebro universos imaginários. Por isso, quando comem não se limitam a comer e quando dormem não se limitam a dormir.

Eu, quando estou a comer, estou realmente a comer e quando durmo estou realmente a dormir.

É esse o meu caminho para a Verdade – finalizou o Mestre.


Mestre Foyan costumava perguntar:

“Porque é que vos dirigis a um centro Zen? Deveis seguir a vossa vida por vós próprios sem ouvir o que os outros dizem.”

Não há pois necessidade de rituais para dar os primeiros passos no Zen, muito especialmente os dos mosteiros. Os seus horários rígidos, a sua disciplina, constituem-se como rotina e sofrimento, que por sua vez são a causa directa de um fracassado dispêndio de energia. Os “certificados de iluminação” são papéis levados pelo vento e que devem ser consumidos pelo fogo. A iluminação não se certifica. O “zazen” é uma verdadeira tolice, uma infantilidade. Uma outra perda de energia.


Para Mestre Foyan o “Budismo é um ensinamento muito fácil de compreender e que relativamente aos outros ensinamentos poupa muita energia. No entanto, os mestres antigos contactavam amiúde com pessoas que se encontravam completamente perdidas, tendo-lhes dito para meditar tranquilamente. Na altura este foi um bom conselho, mas os meditantes não compreenderam os motivos que levaram os mestres a fazê-lo. Assim, fecharam os olhos, anularam o corpo e a mente e sentaram-se imóveis à espera da iluminação. 

É precisamente esta a tolice de que vos falei.” 


Mesmo considerando que a iluminação não depende de qualquer texto dito sagrado nem poderá nunca ser expressa por palavras, constatamos que todo o Zen está contido no seu primeiro escrito: o “Xinxin Ming”. 

Quem o entender e praticar estará a um passo da iluminação.

Como disse o Sexto Patriarca Zen: “Aquilo que vos digo não é nenhum segredo. O segredo está dentro de vós”.

Não tendes tempo a perder. 


O Zen é a essência do Budismo

A liberdade interior é a essência do Zen


A FÉ NA MENTE VERDADEIRA – XINXIN MING


Não há nada de complicado na grande Via,

Mas é essencial evitar preferir. 

Libertos do amor e do ódio

Ela aparecerá com todo o seu esplendor. 


Se nos afastarmos dela pela espessura de um cabelo

Será como um imenso precipício entre o céu e a terra. 

Se a quisermos atingir

Não podemos estar nem a favor nem contra nada. 


O conflito entre o a favor e o contra

É a autêntica moléstia da alma. 

Se não divisarmos a essência das coisas


Afadigar-nos-emos em vão para serenar o nosso espírito.


Tão perfeita como a vastidão do espaço,

Nada lhe falta, nada está fora dela.

Acolhendo e repelindo as coisas

Não somos como devemos ser.


Não intentemos alcançar o mundo submetido à causalidade.

Não adiramos a uma inanidade que exclua os fenómenos.

Se o espírito permanecer em paz no Um

As visões dualistas irão desaparecer por si próprias.


Quando a actividade pára e a passividade impera,

Esta, por sua vez, torna-se mais activa.

Permanecendo no movimento ou na quietude

Como é que poderemos conhecer o Um?


Se não compreendermos a unidade da Via

O movimento e a quietude irão conduzir-nos ao fracasso.

Se nos apartarmos do fenómeno, ele absorver-nos-á,

Se perseguirmos o vazio, virar-lhe-emos as costas.


Quanto mais falarmos e racionalizarmos,

Mais nos desviaremos da Via.

Suprimindo a linguagem e a reflexão

Não existirá lugar algum onde não possamos ir.


Regressando à raiz obteremos o sentido, 

Correndo atrás das aparências afastar-nos-emos do princípio.

Se por um breve instante nos olharmos introspectivamente

Ultrapassaremos o vazio das coisas deste mundo.


Se este mundo nos parece sujeito a transformações

É consequência das nossas visões falsas.

Não é necessário buscar a verdade

Basta terminar com as falsas visões.


Não nos apeguemos às visões dualistas,

Evitemos com todo o cuidado perfilhá-las. 

Caso exista o menor vestígio do sim e do não

O espírito perder-se-á num labirinto de complicações.


A dualidade existe como consequência da unidade,

Mas não nos apeguemos a essa unidade.

Quando o espírito se unifica sem se apegar ao Um,

As dez mil coisas são inofensivas.


Se uma coisa não nos ofender é uma coisa inexistente,

Se nada se produzir não haverá espírito.

O sujeito desaparece atrás do objecto.

O objecto desaparece com o sujeito.


O objecto é pelo sujeito que é objecto.

O sujeito é pelo objecto que é sujeito.

Se desejarmos saber o que é que eles são na sua ilusória dualidade,

Saberemos que não são nada para além do que um vazio.


Neste vazio único os dois identificam-se

E cada um contém em si as dez mil coisas.

Não devemos fazer distinção entre o subtil e o grosseiro.

Como poderemos tomar partido disto contra aquilo?


A essência da grande Via é vasta,

Nela não há nada fácil nem difícil.

As visões mesquinhas são hesitantes.

Quanto mais depressa pensamos que vamos mais lentamente o fazemos.


Apegando-nos à grande Via aniquilamos toda a dimensão

E comprometemo-nos com um caminho sem saída.

Se a deixarmos ir as coisas seguirão a sua própria natureza.

Em essência nada se move nem permanece no mesmo lugar.


Obedecendo à natureza das coisas estaremos de acordo com a Via,

Estaremos livres e seremos libertados de todo o tormento.

Quando os nossos pensamentos estão acorrentados viramos as costas à verdade

E mergulhamos no desassossego.


O desassossego fatiga a alma.

Para quê fugir disto e acolher aquilo?

Se desejarmos adoptar o trilho do Veículo Único

Não poderemos amparar nenhum preconceito contra os objectos dos seis sentidos.


Quando deixarmos de os detestar

Então atingiremos a iluminação.

O sábio perdura sem fazer nada,

O louco enreda-se a si mesmo.


As coisas não conhecem distinções,

Nascem do nosso apego.

Apoderarmo-nos do seu espírito para nos servirmos dele

Não será o mais grave de todos os desatinos?


A ilusão produz quer a serenidade quer o transtorno.

A iluminação destrói todo o apego bem como toda a aversão.

Todas as oposições

São fruto das nossas reflexões.


Visões em sonho, flores do ar,

Porque é que nos devemos dar ao trabalho de as proteger?

O ganho e a perda, o verdadeiro e o falso,

Que desapareçam uma vez por todas.


Se o olho não dorme,

Os sonhos irão desvanecer-se por si próprios.

Se o espírito não se perder nas diversidades

As dez mil coisas já não serão mais do que uma identidade única.


Quando compreendermos o mistério das coisas na sua identidade única

Esqueceremos o mundo da causalidade.

Quando todas as coisas forem consideradas com equanimidade

Regressarão à sua natureza original.


Não procuremos o porquê das coisas

Porque iremos precipitar-nos no domínio das comparações.

Quando a paragem se põe em movimento deixa de haver movimento,

Quando o movimento pára, deixa de haver paragem.


As fronteiras do derradeiro

Não são guardadas nem por leis nem por regulamentos.

Se o espírito estiver harmoniosamente unido à identidade,

Toda a actividade se apaziguará nele.


Quando afastarmos as dúvidas,

A fé verdadeira reaparecerá confirmada e reerguida.

Já nada permanece,

Nada de que seja necessário recordarmo-nos.


Tudo é vazio, luminoso e radiante por si próprio.

Não fatiguemos as nossas forças espirituais.

O Absoluto não é um lugar mensurável pelo pensamento,

O conhecimento não o pode sondar.


No mundo da verdadeira identidade

Não existe outrem nem si mesmo.

Se desejarmos adequar-nos com ela

Bastar-nos-á dizer: não-dualidade.


Na não-dualidade todas as coisas são idênticas,

Nada há que não esteja contido nela.

Os sábios em toda a parte

Chegaram a esse princípio primordial.


O princípio não tem pressa nem se atrasa.

Um instante é semelhante a milhares de anos,

Nem presente, nem ausente,

No entanto, em toda a parte diante dos nossos olhos.


O infinitamente pequeno é como o infinitamente grande,

No esquecimento total dos objectos.

O infinitamente grande é igual ao infinitamente pequeno,

Quando o olhar já não se apercebe mais de limites.


A existência é a não-existência.

A não-existência é a existência.

Enquanto o não compreendermos

A nossa situação permanecerá insustentável.


Uma coisa é ao mesmo tempo todas as coisas.

Todas as coisas não são senão uma coisa.

Se pudermos compreender isto

Será inútil atormentar-nos quanto ao conhecimento perfeito.


O espírito da fé é não-dualista.

O que é dualista não é o espírito da fé.

Aqui as vias da linguagem param

Pois não existe nem passado, nem presente, nem futuro.


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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

O QUE É UM PARADOXO?

 

Um paradoxo pode comparar-se à verdade de cabeça para baixo com a finalidade de atrair a nossa atenção. Tal como nas histórias de Nasrudin, o sábio sufi, que nos surge inicialmente como um idiota. No entanto, em sucessivas leituras, Nasrudin ergue-se na posição correcta e a verdade desvela-se.


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OS MELHORES MÉDICOS – ANGOR ANIMI

 

Hipócrates no seu juramento, há 2500 anos, refere a obrigação do sanador guardar silêncio como se de um verdadeiro segredo religioso se tratasse, de tudo o que este viesse a ter conhecimento acerca da vida dos pacientes, quer no exercício da profissão quer fora dela e que não devesse ser divulgado segundo o senso comum.

Pena é, que alguns médicos, alguns verdadeiros fedelhos, desconheçam o senso comum.

Mais do que a terapia é o terapeuta que faz a diferença.

A maioria dos médicos alopatas são bestas-de-bata-branca, com um estetoscópio como coleira, sem empatia e compaixão para com os seus doentes.

Alguns deles, nas consultas, nem erguem os olhos para os observar.

Os melhores médicos e enfermeiros são os que serviram em cenários de guerra onde abundavam feridos graves, mutilados e moribundos.

Já Hipócrates dizia que quem quisesse ser cirurgião deveria primeiro prestar serviço como médico militar.

O cirurgião romano Galeno exerceu funções num cenário semelhante: foi médico dos gladiadores.

Certas classes profissionais para poderem demonstrar a sua sapiência e manipular o povo, utilizam termos pouco usuais para designar situações correntes. O médico diz ao seu paciente: - Bom, tem lumbago. E o desgraçado do camponês iletrado vai para casa com umas caixas de medicamentos e pensa que vai morrer. 

Quando um paciente consulta um médico e confessa com convicção de que sente a morte a aproximar-se, tal afirmação não deve ser desprezada e o clínico deve investigar o queixoso como um todo, o que não fazem.

A esta sensação chamamos angor animi – angústia da alma. 


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terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

AFORISMOS E REFLEXÕES BREVES V


A olhar vemos muito, desde que observemos tudo o que estamos a ver.


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As comissões parlamentares e outras, são constituídas por um grupo de incompetentes sem capacidade de decisão e que em conjunto acabam por nada decidir ou decidir mal, de modo a que a culpa ou ignorância dos membros se dissipe e possa morrer solteira.

O mesmo acontece com as reuniões de trabalho de organizações e empresas onde se gastam horas a decidir o que podia ser decidido em minutos. Daí a falta de produtividade.

Tenho a sensação de quanto mais reúnem mais o problema se desvanece e resta no seu lugar, um outro sem solução: as próprias reuniões ocupam o lugar do problema real. 

Se na minha vida, para tomar decisões sobre questões que me dizem directamente respeito e tivesse de reunir com este tipo de comissão ou grupo de aconselhamento, ainda hoje estaria a cavar terra na quinta da aldeia.


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Deixa que te dê um conselho: nunca dês conselhos a ninguém e se tos derem faz precisamente o contrário.


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Nunca faço nada antes do pequeno-almoço que tomo às quinze horas, nem antes do almoço que guardo para as 20 horas. A partir daí posso trabalhar em paz.


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Será que tenho algum objectivo neste fim de vida? Por muito que procure não encontro.


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Quando me vejo obrigado a fazer um caminho novo para um qualquer local tenho tendência a enganar-me sempre nas primeiras vezes que o percorro. Só consigo acertar se o fizer mais de umas dez vezes sem grandes interrupções temporais.


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Demorei tantos anos a perder-me e agora poucos me restam para me encontrar.


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Só conto um segredo a alguém quando nem eu o consigo guardar.


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A poesia deve imaginar o inimaginável. Só assim consegue enxotar os leitores indesejáveis.


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Quando nos encontramos numa situação de perigo deveríamos ter calma e astúcia para a enfrentar, o que nos deveria ter sido ensinado em crianças. É completamente o contrário. Protegeram-nos dos perigos deixando que entrássemos em pânico ao menor sinal de uma qualquer ameaça.


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Cada vez que resolvo um problema estou a criar um novo, em regra mais complexo do que o original, do qual me julgava liberto.

Deixei de me preocupar em demasia com as soluções.

O que tiver de acontecer, acontecerá.


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Com algum jeito e esperteza podemos enganar praticamente toda a gente. Os poucos que não se deixam enganar são vilipendiados pelo poviléu.


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O povo considera que um político honesto é aquele que tem sucesso eleitoral. E talvez o seja até ser eleito. Depois, em muito pouco tempo, aprende a dissimular honestidade sem que os eleitores o entendam.


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Os políticos quando se cansam ou nem sequer se determinam a examinar os problemas, tomam as mais aberrantes decisões. 

Lembram os juízes que decidem primeiro, adequando de seguida os factos e a fundamentação jurídica à decisão propriamente dita.


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A maior parte dos homens confunde complexidade com profundidade e é incapaz de distinguir os factos dos argumentos, o que muito aproveita à comunicação social.


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Quando era jovem e andava absorto em brincadeiras pela aldeia, os dias eram pequenos demais, mas os anos eram demasiadamente longos. Agora que sou velho, os anos parecem ter encurtado e os dias são longos, o que muito me aproveita. 


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Temos um ritmo circadiano que nos mantém acordados durante o dia e faz com que possamos dormir à noite. Uma espécie de relógio químico que os cientistas dizem controlado pelo hipotálamo, que segrega uma tal de melatonina.

Tenho o relógio do sono avariado ou fui eu que o danifiquei? 

Não sei, nunca fui bom aluno a química. 


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Passei uma tarde inteira à procura de um isqueiro de estimação. Acabei por o encontrar antes da hora do jantar. Estava no meu bolso.


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O esquecimento é muitas vezes mais importante do que as lembranças. Lembra-te do ensinamento Zen: “Senta-te e esquece.”


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Quanto mais pesquisares mais garantirás que a tua teoria está correcta, esteja ou não. Para tanto, bastar-te-á esconder os resultados negativos e apresentar os positivos.

Devem existir por aí umas vacinas em que foi aplicada esta metodologia… 


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A mentira tem uma velocidade proporcional à sua importância na mente do povo. A verdade, pelo contrário, ainda dorme enquanto aquela já deu a volta ao mundo.


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A verdade é complexa e a mentira eficaz.


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Sou um verdadeiro profeta. Não há nada que eu não consiga prever depois de ter acontecido.

Que culpa tenho eu de que os outros estejam mal informados ou o sejam tardiamente?


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Olho para trás e compreendo a vida. Olho para a frente e tudo não passa de um sonho. Observo o “agora” e vivo.


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Quando ninguém me ouve, murmuro.


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Coitado do pobre. O seu grande problema é o dinheiro. Dinheiro para se alimentar, para viver numa habitação condigna, para alimentar os filhos.

Coitado do “remediado”. Como já tem dinheiro para as suas necessidades básicas o seu problema passa a ser o sexo. 

Coitado do que tem dinheiro e sexo, a sua maior preocupação passou a ser a saúde.

Coitado do rico, que vive obcecado e aterrorizado com a morte.


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À primeira vista todas as criaturas neste mundo parecem copular.

Nos primeiros dois mil milhões de anos de vida na Terra, os seres nem sabiam o que isso era.

Hoje, ainda somos dominados por bactérias e archaea, que não fazem sexo.

Será que é por isso que nos dominam?


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Quando o pénis fica erecto, o cérebro voa pela janela (provérbio chinês). Mas não é difícil comandar o pénis com o cérebro. É tudo uma questão de educação mental. 


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Bismarck afirmou que todos aqueles que respeitam as leis e gostam de salsichas nunca deveriam ver como são feitas.

Se o povo conseguisse entender as motivações e as formas como as leis são elaboradas, deixaria de as respeitar.


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Os advogados são contratados para ganhar as acções e não para que justiça seja feita.


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Quando me dizem que me querem dar uma notícia, em particular, ou se preparam para me pedir dinheiro emprestado ou a notícia nada tem de bom.


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Nunca fales quando estiveres irado ou com ódio. Provavelmente, as tuas palavras perseguir-te-ão pelo resto da tua vida.


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O tempo pode curar todas as feridas, mas não cura todos os nossos remorsos.


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Encontro-me perante um dilema. 

São mais de 2 mil milhões de homens que se acreditam na ressurreição de Jesus. Sem ressurreição não haveria Cristo.

Quanto ao mandamento “amai-vos uns aos outros” muito poucos o cumprem.

Devo duvidar da existência de Jesus?

Não.

Duvido da existência dos cristãos. 


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Nos dias de hoje, é cada vez mais actual a afirmação de Estaline de que a morte de uma pessoa é uma tragédia, enquanto a morte de milhões é mera estatística. A comprová-lo a maioria das notícias hediondas da comunicação social.


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São tantas as tragédias, calamidades, guerras, crianças mortas à fome, que começamos a assistir a uma verdadeira fadiga de compaixão.


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Com a pandemia apareceram quatro padrões de cientistas: o salvador da humanidade, o confia em mim e em mais ninguém, o ignorante em busca de palco, poder, dinheiro e cargos, e os teóricos da conspiração.

Há um quinto tipo que não apareceu: o honesto, sábio e desinteressado, que não quer ser vilipendiado por imbecis e subornado e a quem o povinho nunca daria ouvidos.


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Uma borboleta a voar no Mar da China pode alterar o clima numa zona específica do Atlântico, causando uma tempestade equatorial.

Do mesmo modo, o pensamento de um só homem pode produzir alterações significativas no planeta.


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Em qualquer empresa, organização, governo, se houver alguém que conhece globalmente o sistema, tenderá a ser afastado pelos seus superiores incompetentes.


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Os chineses colocam tijelas de arroz junto dos seus mortos, o que muito espanta os ocidentais, que colocam flores.

É verdade, os mortos não podem comer.

Mas será que podem cheirar o perfume das flores?


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O homem inventou o riso para minorar o seu padecimento.


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No Egipto e na Grécia antiga o trabalho era considerado vergonhoso. Em Atenas no calendário anual existiam cerca de oitenta dias de festa. No Egipto, cerca de 100.

Se os cidadãos não trabalhavam, alguém tinha de executar as tarefas necessárias à vida quotidiana. Eram os escravos.


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A maioria dos santos são hereges, que não demonstram o que são para não serem excomungados.


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Enlil, deus do céu e pai de outros deuses, ficou furibundo com os homens por via do barulho que faziam, tendo resolvido optar pela sua exterminação com a criação de um dilúvio, excepcionado um homem santo e a sua mulher.

Este mito é sumério, e como todos os mitos, influenciou outras culturas que o adoptaram: acádios, babilónicos, cananeus e israelitas.

É dele que nasceu o episódio bíblico do dilúvio, da arca e de Noé, que não deu quaisquer frutos.


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Em Esparta quando as mães se despediam dos filhos que partiam para a guerra, diziam-lhes: “Volta com o escudo ou em cima do escudo.”


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A morte não concede privilégios. Torna-nos iguais.

Como escreveu Shakespeare: “O verme é o único imperador da dieta: engordamos todos os animais para nos engordarmos a nós, e engordamos para engordar os vermes: o rei gordo e o mendigo magro não são senão dois pratos diferentes da mesma mesa.

O homem pode pescar com o verme que se alimentou dos restos mortais de um rei e comer o peixe que se alimentou com aquele verme.


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Nunca me devem acordar antes das 13 horas. Passo mais de dez horas sem conseguir fazer nada. 


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Existe algo que sempre me confundiu. Porque é que os reformados com pensões de miséria, que vivem muito abaixo do limiar da pobreza, e porque é que os assalariados tão mal pagos votam e elegem governos de direita?


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A democracia num país de ignorantes é tudo menos uma forma de governação popular. 


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Quer a nossa espécie queira quer não, estará presa neste planeta que violentou de modo perverso e injustificável, até à sua completa extinção que se avizinha.


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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

FORÇAS FUNDAMENTAIS DO UNIVERSO

 


Existem quatro forças fundamentais no Universo: o electromagnetismo, a gravidade, a interacção nuclear fraca e a interacção nuclear forte.

A força electromagnética une as moléculas. A gravidade, que é a mais famosa das forças da natureza, une a matéria sólida, a força nuclear fraca controla o decaimento radioactivo – força que provoca desintegrações radioactivas - e a forte une o núcleo atómico.

Tudo o que podemos observar no Universo é composto por Fermiões e Bosões.

Os Fermiões são partículas elementares compostas por quarks e leptões.

Os quarks podem combinar-se para formar Hadrões.

Os mais estáveis são os Protões e os Neutrões, componentes essenciais do núcleo atómico.

Há seis tipos diferentes de quarks: up, down, strange, charm, top e bottom.

Os Leptões não sofrem interacção forte.

Os Leptões neutros são conhecidos como neutrinos, já que não interagem com nada.

Há três tipos de Leptões “carregados”: electrão, muão e tau.

Há três Leptões neutros: neutrino electrónico, neutrino muónico e neutrino tauónico.

A tudo isto há que somar os Bosões, partículas elementares que transmitem as forças do Universo: fotões, gluões, bosões w e z e o bosão de Higgs – os fotões transmitem a força electromagnética e os gluões a interacção forte. Os bosões w e z transmitem a interacção fraca e o bosão de Higgs transmite às partículas a sua massa.

Como se não bastasse, existe ainda o Gravitão, uma partícula teórica supostamente encarregada de transmitir a interacção gravitacional, embora a sua existência ainda não tenha sido demonstrada.


E isto por agora, já que como afirma POPPER todas as teorias científicas que são alvo de confirmação estão condenadas ao fracasso, devido ao problema da INDUÇÃO. Assim, nenhuma teoria científica pode alguma vez ser confirmada – “A Lógica da Descoberta Científica”.

O problema da INDUÇÃO foi levantado por DAVID HUME e tem sido uma pedra no sapato da filosofia.

Começo a ficar com vertigens… 


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domingo, 25 de fevereiro de 2024

AFORISMOS E REFLEXÕES BREVES IV

 


Sou o melhor dos convidados. Nunca aceito convites. É como receber presentes. Os presentes podem sair-nos muito caros. 


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Afirmamos que somos livres. No entanto, a nossa vida é passada a imitar os outros. O livre-arbítrio é uma auto-ilusão. 


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Marte não tem a cor avermelhada das fotografias que nos mostram. Não é o planeta vermelho. Vão continuar a publicar fotografias avermelhadas de um planeta cinzento como a Lua. Só assim podem despertar o interesse do público e consequente manutenção do investimento para a sua exploração.


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A fobia mais comum não é a aracnofobia. É o medo inato dos espaços vazios que ficam por baixo dos nossos pés.


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Neste país hás mais de dez milhões de idiotas e os poucos que o não são, só se distinguem enquanto não se determinarem a curá-los da idiotice. Se o intentarem fazer transformar-se-ão nos maiores idiotas entre os idiotas.


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Parece existir sempre uma certa esperança num mundo novo, povoado por génios e homens de carácter e honra, mas com o mesmo Q.I. dos actuais idiotas.


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As mulheres são caçadoras exímias. Escolhem sempre entre todas as presas possíveis a que mais lhe convém, deixando que a presa se convença que é ela a predadora.


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A ansiedade é inimiga do tempo psicológico. Quanto mais ansiosos mais tempo demora a acontecer o que queremos que aconteça rapidamente.


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Quando quero ir à casa de banho e está ocupada, o tempo de espera parece-me uma eternidade, mas quando sou eu que estou lá dentro e alguém quer entrar, o tempo reduz-se a uns meros segundos.


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Não entendo porque é que a máquina de café demora tanto a aquecer, quando demora um único minuto.


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O sexo pago sai sempre mais barato do que o grátis.


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Vivo sozinho e querendo estar só não tenho televisão. Os outros querem viver em família e estão sós em frente às suas televisões.


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Como disse Thackeray, se queremos usar e abusar do carácter de um homem, não há como um familiar para o fazer. Julgo que é isso que me tem acontecido.


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Se todos disserem bem de mim, só encontro uma explicação: não tenho carácter.


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Quando todos aceitarem algo como verdadeiro, a probabilidade de ser falso é muito grande, mesmo muito grande.


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A cada minuto nasce pelo menos mais um idiota.


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Entre todas as criaturas do planeta o homem é o mais inteligente, comportando-se como o mais idiota de todos os seres. Parece mostrar-se muito preocupado com as alterações climáticas e com o futuro do planeta, quando cometeu erros que provocaram danos irreversíveis.

E se não houver futuro nenhum?


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O aquecimento global é sinónimo de capitalismo e o capitalismo neoliberal mais não é do que malogro e tormento.


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Desloco-me ao bazer chinês. Compro alguns artigos made in China. Não penso em nada.

No caminho para casa, atravessando um pequeno jardim, numa visão súbita, vejo os pobres operários chineses que trabalham doze e mais horas por dia, malnutridos, miseravelmente pagos. Alguns vivem amontoados em barracões nas próprias fábricas em que trabalham, com os seus filhos. Não são assalariados, são escravos, e vejo sangue nos objectos que adquiri, vejo suor e vejo lágrimas.

Mais tarde, já noite avançada entro no casino. Enquanto vagueio pelas mesas de jogo encontro o dono da loja na mesa da roleta com um monte de fichas de valor elevado a apostar desalmadamente.

Pensei devolver os artigos, mas os chineses não aceitam devoluções…


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Poderá algo que tem como finalidade uma doação desinteressada terminar em nada?


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A maior conquista do homem é vencer-se a si próprio. Para que tal aconteça terá de saber desprezar o seu ego.


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O que mais distingue os seres humanos de todos os outros animais são os pés.


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Só o homem que já morreu pode viver.


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Nunca vi ninguém tão ignorante como a minha vizinha. Consegue falar de tudo sem nunca acertar com nada. Em bom rigor, é uma enciclopédia paleolítica.


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Quando ocorre uma qualquer tragédia, só será notícia se o número de vítimas for elevado. Quanto mais longínquo e desconhecido for o país maior terá de ser o número de mortos e feridos ou a devastação. Há canais televisivos que apenas vivem destas calamidades.


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O amor gratuito pode acabar por ter um preço elevadíssimo.

Mas as melhores coisas da nossa vida são as que fazemos só pelo prazer que nos dão.


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Procuro sempre ser um verdadeiro gentil-homem, por escassos minutos, com os ignorantes que me rodeiam. Depois, transformo-me numa espada afiada, desfiro um único golpe e afasto-me.

Seria preferível responder com o silêncio, mas ainda não atingi esse estado de sabedoria.


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Elegância e humor não casam entre si, mas quando casam o humor é aplaudido por todos.


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A melhor companhia que posso ter é a que se limita a ficar na sala ao lado e não me incomoda com futilidades. Melhor, é a que nem sequer fala para dizer “bom dia”.


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Hoje, no café, numa mesa de velhotas, não encontrei uma que se dissesse saudável. Nem imaginam a alegria com que falavam das suas doenças e o entusiasmo que colocavam na sua gravidade. Para além disso, todas comiam o que diziam que lhes fazia mal ou que as engordava e quanto mais mal lhes fazia mais comiam e mais vão engordando e adoecendo.


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Para mim quanto mais simples for uma coisa ou um pensamento, melhor.


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Os cafés são centros de futilidade. Quando me sento numa mesa com gente superficial vou somando os minutos gastos sem proveito e multiplico-os por 11, o que me dá uma noção do número de pessoas que morreram à fome durante aquele período. Deste modo são cada vez menos os minutos que passo em cafés.


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Não busques a felicidade. Busca o fim do sofrimento. É feliz quem não procura ser feliz.


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Em vez de procurares a perfeição, toma consciência dos teus erros e imperfeições.


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Só aquele que é possuidor de um grande conhecimento sobre uma determinada matéria pode ser sintético. Vi milhares de sentenças de primeira instância estupidamente extensas, com citações doutrinárias e jurisprudenciais tão desnecessárias como a chuva no meio de uma inundação ou um sol abrasador em período de seca. Citações facilitadas pela colagem, cuja lógica ninguém compreende, nem o próprio julgador, verdadeiro papagaio vestido de corvo. 


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É muito mais fácil escrever um livro longo do que um livro curto.


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O bom governante é como disse Lao Tsé o que segue atrás do seu povo. Quando caminha à sua frente, quando muito, vê a sombra do seu ego.


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Depois de tantas leituras e meditações acerca dos mistérios do Universo, de Deus, da vida e da morte, sei hoje o que sabia quando nasci. Talvez menos…


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Nunca vi Deus. Nunca senti a sua verdadeira presença, parece-me. Mas quando penso que estou com Ele nunca me sinto só. Sinto-me só quando estou no meio do mundo.


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Aquilo a que chamamos civilização é antes do mais uma sucessão de guerras, genocídios, crimes e miséria.


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Quando era criança pensava que uma guerra civil era feita pelos vizinhos zangados e mal-encarados da minha rua, uns contra os outros. Só mais tarde é que me apercebi de que uma guerra civil era uma guerra militar.


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Querendo desculpar-se das guerras que provocam, os líderes políticos definem-nas como a garantia da paz. Estultos, fazer a guerra para viver em paz.


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Na vida impera o sofrimento. Mesmo assim, pena é que seja tão curta.


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A memória da maioria dos homens não passa de um amontoado de factos que nunca aconteceram. 


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Nos tempos actuais fazem-se reuniões por tudo e por nada. São feitas por quem não sabe o que há-de fazer e que não quer fazer nada.


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A criação para ser criação pressupõe a destruição do passado. 


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A melhor poesia é aquela que ninguém compreende, nem o próprio poeta.


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Dediquei-me à poesia sem me preocupar com o que escrevo, porque não tenho que me preocupar com o dinheiro. 


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No dia de anos do meu casamento fui para casa mais cedo aguardando uma qualquer surpresa da parte da minha mulher. Fiquei surpreendido por não ter nenhuma surpresa. Tinha-se ido embora.


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Samuel Johnson terá dito que um segundo casamento é o triunfo da esperança sobre a experiência.

Nesta matéria, entre os meus amigos só conheço um que nunca cometeu o mesmo erro, uma só única vez que fosse. É solteiro.


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Só consegui ser um bom pai quando aprendi, em certas circunstâncias, a agir como uma boa mãe.


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Não são só os ricos que são capitalistas. Muitos dos pobres também o são. Todos irão pagar um preço muito elevado, muito mais depressa do que pensam.


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A tecnologia e a ganância serão os homicidas da humanidade.


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