O PENSADOR

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RODIN

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

O QUE É A FILOSOFIA?



A filosofia Ocidental teve o seu início na Grécia, no século VI a.C.. Segundo uma tradição referida por Plutarco e por Cícero, teria sido Pitágoras o primeiro a utilizar as palavras filosofia e filósofo, num entendimento de que a expressão “sábio”, apenas aos deuses convém, devendo os mortais limitar-se por via das suas limitações, a uma aspiração à sabedoria. Pitágoras distinguiu na vida três espécies de homens, exactamente como nos jogos olímpicos. A classe inferior é a dos que aí se deslocam com o intuito de comprar e vender; a seguinte, a dos competidores; e, acima de todos estes, os que simplesmente vêem. Estes são os filósofos, que actuam de modo desinteressado, única e exclusivamente por amor à sabedoria.

Mas, talvez mais do que com Pitágoras, foi Sócrates e na sequência deste, Platão, que definiu com algum rigor a palavra filosofia, entendida como amor da sabedoria, o que pressupõe o seu desejo, que é o desejo de conhecer, na medida do possível, tudo o que é passível de conhecimento. Este conhecimento subsiste na constatação da ignorância, que é uma qualidade da imperfeição do ser humano, o que impõe a pesquisa prévia da nossa natureza. Daí decorre a afirmação do imperativo délfico “Conhece-te a ti mesmo”.
Os gregos esperavam da filosofia mais do que os filósofos modernos. Esperavam a modificação das suas vidas. O homem vive num estado intermédio entre a total ignorância e a posse plena da sabedoria. Platão vem a determinar no Fédon, que o filósofo por meio da sua especulação, promove a purificação da alma e prepara-se convenientemente para a libertação final, que mais não é do que a morte.

Não é ciência nem teologia. A ciência é uma circunstância do conhecimento que abarca um conjunto de aquisições de índole intelectual, que têm por finalidade propor uma explicação racional e objectiva da realidade, essencialmente com recurso à verificação experimental. Por seu turno, a teologia dogmática, revelada, restringe-se aos dogmas, à tradição e à revelação, estribando-se nos textos sagrados. Deparamo-nos ainda, com uma teologia natural, racional ou filosófica, que investiga o que a Deus respeita, ancorando-se na razão. Esta é a ciência de Deus, que tem por fundamento a razão e não a revelação – atente-se que foi durante o longo período qualificado na História da Filosofia como da Filosofia Cristã, que foi realizada a distinção entre teologia natural e teologia revelada. Ora, contrariamente à revelada, a teologia natural, é no nosso entender, a parte da metafísica que investiga a existência e a essência de Deus – o Ser Absoluto e Infinito –, objecto da filosofia primeira desde Aristóteles.

Mas, se não é ciência nem teologia, qual o lugar que ocupa no mundo do conhecimento?
As questões filosóficas mais inquietantes, não tiveram, não têm, e provavelmente nunca terão uma resposta satisfatória. Não pertencem ao domínio da ciência. Algumas são comuns à teologia, quer dogmática quer natural. No entanto, a primeira não se identifica minimamente com a filosofia, porquanto se atém à revelação, violentando a liberdade de pesquisa. A segunda é em essência metafísica, como já deixámos assinalado, cujo estudo incide sobre um dos problemas fundamentais: Deus. Assim, consideramos que a filosofia toma assento num campo neutro, donde não vislumbramos a ciência com o seu conhecimento definido, e nos afastamos com celeridade da teologia com os seus dogmatismos obnubiladores.

Num campo neutral, não há certezas, verdades. As questões filosóficas têm respostas múltiplas, condicionadas pelo homem que as postula, em função dos seus condicionamentos e da sua mundividência. Quando postulamos uma qualquer doutrina ou teoria – v.g. a realidade é Deus, todo o resto é ilusão; só a matéria existe nas suas múltiplas combinações; o conhecimento advém dos sentidos; ou advém dos sentidos e da razão; ou de ambos e da “intuição” – ponderando todos os argumentos disponíveis, e com a necessária abertura de espírito a fazemos nossa, estamos a filosofar. O mesmo não se poderá dizer dos que admitem uma qualquer realidade ou crença, por força da autoridade de outrem, da revelação manifestada em livros a que chamamos sagrados ou porque nos queremos simplesmente adequar à multidão. As questões mais apetecidas são em regra as insolúveis ou praticamente incognoscíveis.

A filosofia, sendo a ciência das perguntas sem resposta – pelo menos nos domínios que mais nos apoquentam –, terá alguma utilidade?   
Valerá então a pena, tanto e tão inglório esforço?
A inexistência de respostas concludentes e apaziguadoras de uma curiosidade que a maior parte das vezes não é pacífica, mas antes ansiedade patológica, transportar-nos-á pelo sinuoso trilho da felicidade? Irá conceder-nos tal benção, a almejada segurança, a sensação de permanência pela qual tanto ansiamos e nos desespera em infundada e infrutífera busca?
Seja como for, a inutilidade da filosofia, o seu fracasso, só poderá relevar ao ser constatado pela análise crítica do próprio filosofar. Quando percepcionamos a incerteza a que nos conduz a razão, quando penetramos nas profundezas do nosso ser convictos de que qualquer esforço indagatório apenas pode causar maior confusão nos nossos limitados cérebros, nessa quietude, que já não sabe o que é a impermanência e o desejo absurdo de encarar a verdade face a face, talvez algo surja, que não é filosofia, teologia, ciência, mas antes harmonia e paz, uma paz que é negada aos inquietos e aos arquitectos de ilusões.

A filosofia, à primeira vista, parece ter triunfado sobre os males do passado. Também julgamos que triunfará sobre os do futuro. Pena é, que nada consiga transformar no presente, e seja sinónimo de inutilidade prática.




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