O PENSADOR

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RODIN

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

SÓCRATES - CONHECE-TE A TI MESMO




Nasceu no ano de 470 a.C. Era filho de um artesão e de uma parteira. Poderá ter sido aluno de Pródico.

É um marco decisivo na história da filosofia, não obstante desconheçamos se sabemos muito ou pouco acerca da sua vida. Tal como nos foi apresentado por Platão, exerceu uma grande influência sobre cínicos e estóicos. Se fosse possível resumir o que parece derivar dos seus ensinamentos, arriscar-nos-íamos a reduzi-los a dois:
- uma vida sem indagação ou constante investigação não merece ser vivida; e
- o autoconhecimento é o alimento da sabedoria. 

Entende a investigação filosófica como pesquisa. Uma pesquisa que não se esgota, quer em nós quer nos outros. Cícero disse que Sócrates fez com que a filosofia descesse do céu à terra.

Tinha uma personalidade extraordinariamente forte, o que fez com que Platão, seu discípulo, o comparasse à tremelga, que entorpece quem a toca. Conhecemos a sua vida, essencialmente pelos escritos de Platão, em especial:
- Pela Apologia de Sócrates – que narra o processo e a sua condenação à morte. Sócrates foi acusado por Meleto, Ânito e Lícon de ser “culpado de investigar, em excesso, os fenómenos subterrâneos e celestes, de fazer prevalecer sobre a melhor causa a pior e de ensinar aos outros esta doutrina”. No entanto, o texto da acusação, tal como se encontra descrito por Diógenes Laércio, é o seguinte: “Esta acusação jurada é de Meleto, filho de Meleto, natural do demo piteu, contra Sócrates, filho de Sofronisco, natural do demo alopecense. Sócrates é culpado de não acreditar nos deuses em que acredita a cidade e de introduzir divindades novas; é ainda culpado de corromper a juventude. Pena pedida: a morte.”
A obra apresenta-se dividida em três partes. Na primeira, Sócrates expõe a sua defesa, sem os ornatos retóricos utilizados pelos oradores da época – prescindiu inclusivamente dos serviços de um profissional afamado –, atendo-se antes à pureza das suas palavras e à verdade, exprimindo-se do modo como habitualmente o fazia. Na segunda, depois de ter sido considerado culpado, propõe a pena que julga justa ao seu caso, ou seja, alimentado como os benfeitores da cidade até ao fim dos seus dias, no Pritaneu. Tal facto deve ter sido apreciado pelos juízes como uma provocação, levando-os a proferirem uma sentença de condenação à morte. Na terceira e última parte, filosofa sobre a sua condenação e sobre a própria morte.  
- Pelo Críton – Sócrates condenado à morte, recusa-se à evasão, fundamentando tal atitude nos seus princípios, e no respeito dos seus ensinamentos filosóficos.
- E pelo Fédon – Esta obra narra os últimos momentos da sua vida, que depois de se ter negado à evasão, mantendo-se fiel aos seus princípios, discursa com serenidade, indiferente ao trágico momento que se aproxima, acerca da imortalidade da alma.

Se bem atentarmos, quer o processo quer a morte de Sócrates, constituem um acontecimento que só tem possibilidade de ser comparado ao de Jesus – não sendo este o lugar próprio para valorar as duas personalidades tendo em conta a sua atitude perante a morte e aos princípios que enformaram as suas vidas. Neste particular, leia-se o pequeno ensaio de Bertrand Russell, “Porque Não Sou Cristão”, onde afirma que em termos de sabedoria, Cristo não está tão alto como outras figuras históricas, nomeadamente Sócrates e Buda.

Para além destas obras, devemos mencionar a Carta VII, onde entre outros, Platão, enuncia os motivos que o empenharam na defesa de Sócrates, “o velho que amava”, e da sua injusta morte.

Sócrates adoptou a divisa délfica “Conhece-te a ti mesmo”, mas não limitou a actividade filosófica a si próprio, antes a estendeu aos outros, e aos inevitáveis relacionamentos nas suas múltiplas vertentes, entre ambos.

Considera que a filosofia é antes do mais uma missão divina. Não cremos, no entanto, que o Deus socrático seja o deus ou deuses dos gregos.
Durante toda a sua vida diz ter ouvido uma voz orientadora. Seria a voz da sua consciência ou a do seu Deus?
“Ao longo de toda a minha vida, a voz divina que me é familiar nunca deixou de fazer-se ouvir, mesmo a propósito de actos de menor importância, para me deter se eu estivesse para cometer alguma coisa de mal.” – Platão, Apologia de Sócrates

O que está para além da morte é uma incógnita, um mistério metafísico. Sócrates tinha a esperança da existência de algo para além dela, que segundo a tradição e as crenças estabelecidas, seria muito melhor para os bons do que para os maus. Se realmente a morte nos libertasse de tudo, que boa sorte seria para os maus, ao morrerem, verem-se desembaraçados quer do corpo quer do mal e da sua maldade, ao mesmo tempo que da alma – veja-se de Platão, o Fédon.
“(...) recear a morte não é senão cuidar-se sábio quando se não é, pois será crer que se sabe o que não se sabe. Ninguém, efectivamente, sabe o que é a morte, nem se ela será justamente para o homem o maior dos bens, receando-a como se fosse coisa certa ser ela o maior dos males.” – Apologia de Sócrates, Platão.

Dirigindo-se aos juizes que o absolveram no processo em que foi condenado à morte, Sócrates terá dito:
“De duas coisas, uma: ou aquele que morre fica reduzido a nada e não tem nenhuma consciência seja do que for, ou, de acordo com o que se diz, a morte é uma mudança, uma transmigração da alma deste lugar em que nos encontramos para um outro lugar. Se a morte é a extinção de todo o sentimento e se parece com um daqueles sonos em que nada vemos, mesmo em sonho, morrer é então um maravilhoso lucro (...)
Por outro lado, se a morte for como uma passagem de aqui debaixo para um outro lugar e se for verdade, como se diz, que todos os mortos aí se encontrarão reunidos, poderemos, ó juizes, imaginar um maior bem?” – Apologia de Sócrates, Platão.

Despedindo-se do tribunal que o condenou, disse:
“Mas chegou a hora de nos irmos, eu para morrer, vós para viver. Quem de nós tem a melhor parte, ninguém sabe, excepto o deus.”

O exame constante de si e dos outros justificou o sentido que sempre procurou dar à sua vida. Condenado à morte instou os juizes a aceitarem a morte com esperança, já que certo é o facto de que não há mal possível para o homem de bem, nem durante a sua curta vida nem depois de sua morte. Encarou a sua condenação com uma doçura quase inconcebível pelo comum dos mortais, reagindo-lhe como os cisnes lhe reagem, que sentindo aproximar-se a sua hora, cantam mais melodiosamente que nunca, pois sentem uma felicidade indescritível por irem encontrar-se com o deus que servem – Platão, Fédon.

Manteve-se sempre fiel aos seus princípios, não anuindo na fuga que os amigos lhe propuseram. A aceitação da condenação, da pena de morte, é o testemunho, o exemplo de tudo o que vinha ensinando.
Na perspectiva de se poder evadir, evitando a morte, disse dando voz às Leis:
“Vamos, Sócrates, escuta-nos, a nós que te sustentámos, e não ponhas os teus filhos, a tua vida, nem seja o que for acima da justiça, a fim de que, chegado ao Hades, possas declarar tudo isso em tua defesa aos que governam nesse lugar.
(...)
Se partires hoje para o outro mundo, partirás condenado injustamente, não por nós, as leis, mas pelos homens.
Se ao invés, te evadires depois de haveres tão vilmente respondido à justiça com a injustiça, ao mal com o mal, (...) então ficaremos iradas contigo o resto da tua vida.
E, no outro mundo, as nossas irmãs, as leis do Hades, não te irão receber favoravelmente (...). – Platão, Críton

Antes da execução, exortou os amigos a cuidarem de si mesmos. Seguidamente, pegou na taça de veneno com perfeita serenidade e, sem tremer ou vacilar, levou-a aos lábios esvaziando-a na totalidade, com uma facilidade e calma perfeitas.
Um dos seus amigos, escondeu a cabeça e chorou, não a infelicidade de Sócrates, mas a sua, ao pensar no amigo que perdia. Este facto, confirma a asserção de que os mortos não choram, mas são os vivos que se choram a si mesmos.

As suas últimas palavras foram:
“Críton, devemos um galo a Asclépio. Não te esqueças de o pagar!” – Platão, Fédon. 
Na época pagava-se um galo a Asclépio pela cura de uma doença, e Sócrates curara-se da doença da vida.

Após longa argumentação, Sócrates, no diálogo Fédon, conclui pela imortalidade da alma e pela sua imperecibilidade.  A alma impura tem o destino de errar sozinha, na maior solidão, enquanto que a pura tem os deuses por guias. A alma que é ornamentada com a temperança, a justiça, a coragem, a liberdade e a verdade, parte para o Hades, onde receberá como consequência a suprema recompensa. 




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