O PENSADOR

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RODIN

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

INICIAÇÃO À METAFÍSICA




A palavra metafísica, surge no século I a.C. com Andrónico de Rodes, que ao classificar os escritos de Aristóteles, designou com tal denominação os textos que se seguiam à Física. Em termos meramente literais, metafísica, é o que vem depois da física, o que está para além dela.
A metafísica faz uso da razão e não da revelação religiosa como ocorre com a Teologia Revelada, para atingir respostas a questões cujo objecto são realidades imateriais, tais como Deus, a alma, a morte e seu significado. A metafísica começa onde todas as outras ciências terminam. 

Na perspectiva de alguns pensadores, nomeadamente Kant, a incognoscibilidade de tais inquietações conduz fatalmente a uma ilusão transcendental – este é um dos seus sentidos críticos. Não obstante, mesmo que o seu decesso já tenha sido anunciado um sem número de vezes, assistimos ao seu renascimento renovado. Efectivamente, com este filósofo da modernidade – tornado famoso entre outros, pela sua "Crítica da Razão Pura" –, a metafísica parece ultrapassada. Mas, se por um lado a parece derrotar pela Crítica, tem a convicção de que não se extinguirá, pelo menos, como uma disposição profunda da natureza humana. Neste sentido são esclarecedoras as palavras quase proféticas, com que termina a dita Crítica da Razão Pura: “podemos estar certos de que voltaremos sempre à metafísica como a uma amada com a qual por vezes discutimos; e isto, porque a razão, uma vez que se trata de fins essenciais, tem de trabalhar sem descanso ou na aquisição de um saber sólido ou na destruição dos bons conhecimentos já adquiridos.”

Quer queiramos quer não, a busca da permanência é algo que está profundamente enraizado no homem, enquanto e desde que o é, sendo uma das motivações fundamentais que o conduziram à filosofia. Deus e a imortalidade são as duas pedras angulares do instinto de segurança do homem.
No entanto, como refere James Jeans, antes de falarem, os filósofos devem pedir à ciência auxílio no que toca à eventual verificação de factos e hipóteses provisórias, só então, podendo a sua análise e discussão transcorrer legitimamente para o domínio da filosofia.
É interessante realçar, que quer Descartes quer Leibniz, que podem legitimamente considerar-se como dois dos principais alicerces da ciência, foram eminentes metafísicos.

Quando crianças e na adolescência nos começamos a questionar sobre questões insolúveis ou para as quais apenas recebemos respostas insatisfatórias, somos desde logo metafísicos: Onde está o avô que morreu, está no céu? Quem é Deus? Quem fez Deus? Porque é que eu nasci? Porque tenho de morrer?
As questões metafísicas são questões sem resposta, mas mesmo assim, enquanto existirem homens estou certo de que não deixarão de ser formuladas. A sua inoperância é manifestamente suplantada pela angústia que decorre de uma inquietude essencial.

O homem, na eminência da sua extinção, sofre – a menos que, considerando o absurdo da sua existência tenha optado pelo suicídio. Na constatação de que morre sozinho – Pascal –, busca ardentemente um alívio, que é antes do mais, uma esperança, caso não se resigne à fatalidade do decesso.

Deus é o resultado de um julgamento espontâneo da razão – S. Tomás –, uma ideia inata – Descartes –, uma pura intuição intelectual – Malebranche –, a ideia resultante do poder unificador da razão humana – Kant –, um fantasma da imaginação – Huxley – ou o fracasso de um sem número de seres pensantes atormentados por uma angústia existencial?
O problema de Deus, da alma, do sentido da vida e da morte e suas implicações espirituais, não é susceptível de análise científica, não são factos empiricamente observáveis. A ciência reduz-se à explicação dos fenómenos, não às suas razões existenciais, aos porquês.
Mesmo que possamos conhecer a sua existência, não o compreendemos, nem compreenderemos – desconhecemos a sua essência.

A grande questão metafísica, segundo Leibniz, e na sequência deste, de Heidegger, é a de saber porque existe alguma coisa em vez de nada. É a grande questão da filosofia. 
Existindo, o homem é um “ser-para-a-sua-morte”. Atormenta-nos a ideia que desde o momento do nosso nascimento começamos imediatamente a morrer, e morremos sozinhos. Conseguimos imaginar o nosso próprio nada? Ou algo de carácter imperativo, nascido nos confins da nossa mente, vem assegurar-nos a existência de uma alma imortal que um Deus criador receberá no seu seio após o nosso decesso?
Mas, se não conseguimos definir a vida, encontrar o seu sentido – se é que algum sentido tem –, como poderemos compreender a morte? Por outro lado, mesmo que ateste a minha existência, a minha essência e liberdade, estarei em condições de responder à questão: porque existe o ser em vez do não-ser, do nada?

Aristóteles considera que “ou se deve filosofar ou não se deve: mas para decidir não filosofar é ainda e sempre necessário filosofar; assim, em qualquer caso é necessário filosofar”, mesmo com o risco da metafísica ser remetida para o vidrão de reciclagem do conhecimento: “Há metafísica bastante em não pensar em nada”.

Onde finda a metafísica, inicia-se a teologia, com as suas revelações, mediações e dogmas.
Se Pascal renunciou à filosofia em detrimento da religião, outros abandonaram-na em detrimento daquela, na esperança de que a razão solucionasse as suas mais profundas inquietações.
As religiões respondem na prática a todas as questões metafísicas. Mas, se a razão é absolutamente falível pelas suas naturais limitações, que dizer da fé que não é uma afeição racionalizada, mas antes um sentimento? 
Não serão os pensamentos dos homens meras brincadeiras de crianças, como afirmou Heraclito?




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