O PENSADOR

O PENSADOR
RODIN

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

INICIAÇÃO À FILOSOFIA CRISTÃ




A história do pensamento ocidental, a partir dos finais da Antiguidade, é fortemente influenciada pelo cristianismo. A filosofia cristã teve a sua existência iniciada pelos Padres da Igreja – v.g. Orígenes –, passando por Santo Agostinho, S. Tomás e outros, até ao Renascimento. O primeiro período é dominado por Santo Agostinho e o segundo por São Tomás de Aquino, que tal como os seus sucessores adoptou a filosofia aristotélica. Curiosamente, diga-se, que entre Boécio – nascido em 480 – e Santo Anselmo – nascido em 1033 – decorreram mais de cinco séculos, e se algum filósofo se destacou, foi Escoto Erígena. 
O período compreendido entre 600 e 1000, ficou conhecido como Idade Obscura. No entanto, na China é a época da dinastia Tang, florescente e pródiga fundamentalmente no domínio da poesia. Também a civilização islâmica floresceu neste período.

Com a filosofia cristã, estabeleceu-se o princípio de que a verdadeira vassalagem do homem é para com Deus, e não para com a autoridade do Estado.
Se a filosofia grega é procura e liberdade, a filosofia cristã começa por se ater à revelação. Mas não se cinge única e exclusivamente à “verdade” dogmática, antes procura compreender para a poder realizar, a mensagem de Jesus.
Para atingir os seus objectivos, não deixou de recorrer à filosofia grega, em especial à do seu último período, profundamente imbuída de conceitos religiosos. O aproveitamento destas doutrinas, ocasionou não em poucas especulações, resultados contraditórios ou até absolutamente incompatíveis com os dogmas e princípios fundamentais do cristianismo. O teólogo Dean Inge, afirma que não é possível separar o platonismo do cristianismo, sem que este seja dilacerado, e que São Tomás sofreu maior influência de Platão do que de Aristóteles – esta opinião no tocante à maior influência de Platão do que de Aristóteles em São Tomás não tem a anuência da maior parte dos historiadores da filosofia. Não olvidemos, que a influência de Plotino – último dos grandes filósofos da antiguidade e fundador do neoplatonismo – na teologia cristã, se dá por intermédio de Santo Agostinho.

A pesquisa está limitada na maior parte dos filósofos aos ensinamentos e determinações da Igreja. E aqui, ou se sabe para crer ou se crê para saber. Vive-se na certeza da existência de Deus, da imortalidade da alma, da criação do mundo e da providência divina.
Na filosofia cristã deparamo-nos com um conceito metafísico absorvente: o de Deus, o deus do monoteísmo judaico, que se transforma no Deus do monoteísmo cristão.
Os Evangelhos são os alicerces de toda a estrutura do pensamento desta época. Os judeus ainda aguardam o Messias, enquanto que os cristãos já o tiveram na pessoa de Jesus Cristo, que é o Logos da filosofia grega – veja-se o Evangelho de João, onde Jesus é identificado com o Logos platónico e estóico.

Tenha-se em consideração que o Inferno não é uma crença de origem cristã, mas baseia-se em crenças ancestrais.


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A PATRÍSTICA é a filosofia dos Padres da Igreja, que termina em meados do século VIII – com João Damasceno e Beda o Venerável. Dedica-se essencialmente ao estudo das relações entre filosofia e teologia, ao conhecimento da existência de Deus e da sua essência, ao mistério da Trindade e á criação do mundo. 

A gnose resultou num ataque contra o cristianismo. Mais do que a fé, é conhecimento, pesquisa filosófica, condição essencial à salvação. Recebeu uma influência determinante das doutrinas dos filósofos gregos.
É evidente que as teorias gnósticas afrontavam e colocavam em risco a harmonia doutrinal do cristianismo. Aí, surgem pensadores cristãos que polemizam contra a gnose, vendo-se obrigados a uma elaboração doutrinal mais refinada, do que a assumida pelos padres apologetas dos primórdios da Patrística.

O século VI sofreu a influência de três grandes homens: Justiniano – pelas leis –, S. Bento – pela organização das ordens monásticas – e Gregório Magno – pelo incremento do poder papal.

O conhecimento da obra de Santo Agostinho dá-nos um acesso seguro à filosofia cristã do primeiro período e a toda a pesquisa que tenha a alma por objecto. Para o Santo, Deus é a substância única que tem uma existência própria, que existe por si só. Por outro lado, o mundo, tudo o que por exclusão não é Deus, e cuja existência deste depende.


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A ESCOLÁSTICA define a especulação filosófica e teológica que teve abrigo nas múltiplas escolas eclesiásticas e nas universidades da Europa a partir do século IX e até ao Renascimento. Durante este período procurou conciliar-se a razão com a fé, com o apoio da filosofia grega – em especial a de Aristóteles. 

Em São Tomás de Aquino, Deus é o “Ele que é” do monoteísmo judaico. É o Ser, uma das questões metafísicas mais obscuras e de difícil resposta. O Ser é o acto em função do qual a essência é. Retomando o conceito de causa última, sendo assim suprema, Deus é o ente em que existência e essência coexistem, o que o leva a afirmar que “todos os seres pensantes conhecem implicitamente Deus em toda e qualquer coisa que conhecem.” Segundo Étienne Gilson, São Tomás foi tão longe quanto possível em metafísica, opinião que não é partilhada por Bertrand Russel.

Depois de S. Tomás, realcemos as figuras de Rogério Bacon – representante do experimentalismo científico do século XIII –, Duns Escoto e Occam – último grande filósofo da Escolástica –, sem que olvidemos o misticismo de Mestre Eckhart. 




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