O PENSADOR

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RODIN

domingo, 18 de janeiro de 2015

BERTRAND RUSSELL - O DESEJO DE AMOR, A BUSCA DO CONHECIMENTO E A COMPAIXÃO




Russell nasceu em 1872 e faleceu em 1970.
É um filósofo da pós-modernidade, cujos interesses principais são a lógica, a epistemologia e a metafísica, sem olvidar a matemática, ciência em que se licenciou no Trinity College, em Cambridge. Foi laureado com o prémio Nobel da literatura em 1950.

Algumas obras:
Principia Mathematica; O Método Científico em Filosofia; Introdução à Filosofia matemática; Ciência e Religião; Significado e Verdade; Os Problemas da Filosofia; O nosso Conhecimento do Mundo Exterior.

Afirmou que três paixões simples mas intensas, governaram a sua vida: o desejo de amor, a busca do conhecimento e uma enorme e insustentável compaixão pelo sofrimento dos seres humanos.

Ficou fundamentalmente conhecido, pela sua História da Filosofia Ocidental, e pelas teorias do atomismo lógico e das descrições.
A primeira teoria, defende que a linguagem pode ser analisada em átomos fundamentais de significado, verdadeiros blocos de construção com os quais todas as afirmações são construídas. A partir desta análise, pode proceder-se a uma análise do mundo, de molde a que os átomos lógicos correspondam a átomos metafísicos – factos.
A segunda, prende-se com a verdade das declarações. Se eu afirmar que o primeiro-ministro francês é louco, apenas terei de o constatar. Mas se afirmar que o “primeiro-ministro da cidade de Seia é louco”, verifico que algo terá a propriedade de ser primeiro-ministro em Seia, e esse algo tem a propriedade de ser louco. Agora, resta-me correr mundo, buscando alguém que tenha em si as duas propriedades enunciadas. Se o encontrar, a proposição será evidentemente verdadeira, se não o encontrar – como não encontrarei –, será obviamente falsa, mas sem que possamos afirmar que não tem qualquer significado.

O homem aceita as religiões, não por motivos racionais, mas meramente emocionais, fundamentados no temor. Medo do desconhecido e da insegurança. Medo do mistério, da infelicidade e da morte. E o medo gera a crueldade, motivo pelo qual esta caminha de mãos dadas com a religião – até uma análise superficial da história o confirma.

Bertrand Russell – Porque Não Sou Cristão – afirma que para se ser cristão é necessário que acreditemos em Deus, na sua imortalidade, e em Cristo. 
No caso deste último, devemos ter como base fundamental a crença de que podendo não ser de essência divina – rejeitando-se assim, a doutrina da Trindade –, será pelo menos, o melhor e mais sábio dos homens. No entanto, pergunto se poderá haver cristianismo sem assentimento do dogma da ressurreição? Julgo que não.

Russell não crê em Deus e na sua imortalidade, como também não acredita que Cristo tenha sido o melhor dos homens, ainda que lhe reconheça um grau elevado de virtude moral. Referindo-se ao Cristo dos Evangelhos, e não ao Cristo histórico, de cuja existência tem dúvidas, começa por enaltecer alguns dos seus preceitos, para depois se referir às imperfeições dos seus ensinamentos e analisa os problemas morais, enunciando os que reputa defeituosos – e são bastantes, nomeadamente, a crença no Inferno, em especial para os que não apreciavam as suas palavras, a parábola da figueira e da vara de porcos. Num plano moral superior ao de Cristo, estabelece Buda e Sócrates.

Buscou destruir alguns dos muitos argumentos aduzidos pela Igreja, na tentativa desta de afirmar racionalmente a existência de Deus.

ARGUMENTO DA CAUSA PRIMEIRA – 
Se tudo o que existe no mundo tem uma causa, percorrendo a cadeia de causas, não poderemos ascender ao infinito, motivo pelo qual chegaremos fatalmente à Causa Primeira, ou seja, Deus. É um argumento sem validade. Se tudo tem uma causa, também Deus a deve possuir – Quem criou Deus? –, e se algo existe sem causa, tanto pode ser o mundo como Deus. Não há nenhuma razão que impeça que mundo tenha surgido sem qualquer causa, bem como para o facto de ser eterno.

ARGUMENTO DA LEI NATURAL – 
As leis naturais constituem-se como uma descrição do modo como a realidade se comporta, e é de todo desnecessário sustentar que existe alguém ou algo que o imponha. E se o impõe, porque imporá estas e não outras, definidoras do melhor dos mundos, que não é este?

ARGUMENTO DO PLANO OU TEOLÓGICO – 
Por este argumento afirma-se que tudo no mundo está disposto de modo a permitir a nossa existência, e caso fosse ainda que ligeiramente diferente, tal não ocorreria. Não haverá ninguém de boa-fé, que possa acreditar que este mundo, que evolui há milhares de milhões de anos, com todas as suas imperfeições e defeitos, tenha sido a melhor produção possível de um Ser omnipotente e omnisciente.

ARGUMENTO MORAL A FAVOR DA DIVINDADE – 
Existem três argumentos intelectuais a favor da existência de Deus, que foram contrariados por Kant, na Crítica da Razão Pura: o Argumento Ontológico, o Cosmológico e o Físico-Teológico – ver Kant.
Mas criou um novo argumento de carácter moral – ver Kant, Crítica da Razão Prática –, que numa das suas formulações afirma que não existiria o mal ou o bem se Deus não existisse. Será que a distinção entre estas duas realidades se deve a um desígnio divino? Se se deve a um desígnio divino, é concebível a criação do mal por um ser absoluta e eminentemente bom?

ARGUMENTO QUANTO À REPARAÇÃO DA INJUSTIÇA –  
Considera-se por este argumento, que a existência de Deus é necessária para introduzir a justiça no mundo. Só que no nosso mundo reina a injustiça, pelo que necessitamos de um Deus, de um Paraíso e de um Inferno para que a justiça seja restabelecida. A existência de tantas injustiças no nosso planeta – inibo-me de enunciar factos notórios –, é um argumento contra a divindade e não a seu favor.


Haverá vida depois da morte? “Os filósofos costumavam pensar que existiam substâncias definidas – a alma e o corpo – que permaneciam idênticas; que a alma uma vez criada, continuava a existir por todo o tempo futuro, enquanto que o corpo cessava temporariamente, com a morte, até à ressurreição da carne.”
No entanto, no que toca ao espírito – sem que nos debrucemos aqui, por desnecessário, do corpo –, a continuidade mental de um indivíduo é de hábitos e de memória. Se sobreviver à morte, estes irão ter continuidade na nova existência, o que é de todo improvável por estarem ligados ao cérebro, que se decompõe com a morte, e nesta decomposição é de todo lógico que os seus processos também se decomponham. É assim, muito pouco provável que o espírito perdure para além da morte.
Tal como no domínio da religião, não são argumentos racionais, mas também emoções, que instigam os homens a acreditar numa “vida” depois da morte, sendo a mais insistente de todas, o medo – já que todo aquele que esteja absolutamente certo da existência numa vida futura, não deverá temer a morte.

O mundo é o resultado de um acidente, ou caso resulte de um propósito específico, deverá ter tido origem num demónio, diz de modo irónico. Julga o acidente a hipótese mais plausível e menos penosa.




2 comentários:

  1. Dr José Maria, muito obrigado por nos brindar com essa matéria!

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  2. Boa tarde Amigo

    Russell é o meu filósofo preferido, depois de Platão - isto sem olvidar Sócrates que nada escreveu.

    Interessante referir que os três homens que mais influenciaram a humanidade (existem outros, mas talvez sejam estes os principais) nada escreveram...

    Um abraço.

    JMA

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